quarta-feira, 21 de novembro de 2007

México - Artigo

ADMIRAVÉIS DESTINOS
Iucatão! Apraz-nos mais referir o local das nossas andanças desta forma, causando assim alguma interrogação. Mas, afinal de contas, não é mais do que uma península pertencente ao México, mas em tudo diferente. Os usos e costumes, os próprios habitantes, resistentes ao termo mexicanos preferem, orgulhosos, a designação da “nacionalidade” iucatecos. O facto é que esta península saúda-nos e revela-nos o seu maior tesouro: as Misteriosas Cidades Maias!
Sete Maravilhas do Mundo
De Cancún, apenas sentimos o ar quente e húmido. Partimos de imediato para uma das Sete Maravilhas do mundo moderno, num autocarro não menos quente e pegajoso. Chichén Itzá, o mais famoso e restaurado sítio arqueológico do Iucatão, abre-se aos nossos olhos como uma, ainda, imponente cidade Maia. O seu “castelo”, pirâmide de quase 25m de altura, o “templo das mil colunas”, com a sua selva de colunas, o “cenote sagrado” palco de sacrifícios, rituais e oferendas, e todos os “pequenos”-grandes pormenores do Deus Chac-Mool, serpente emplumada, pedras esculpidas, etc. Contudo, talvez devido à sua fama recente, não podemos deambular livremente por entre as ruínas ou até subir à sua majestosa pirâmide. Fica-nos um gosto amargo de cartão-postal em que admiramos a paisagem e ansiamos por ir lá, mas é nos interdito.



Fugindo à tempestade
Os antigos deuses Maias, como que dizendo basta ao escrutínio dos seus mistérios, expulsam-nos de Chichén Itzá, com uma violenta tempestade tropical que nos deixou sem dúvidas sobre o seu poder e… encharcados até aos ossos. Agora, tremendo de frio, para mais 5h de autocarro, dirigimo-nos para Mérida, capital da Península do Iucatão. É uma cidade próspera, cheia de encanto, com ruas estreitas, formosas praças e lindíssimos edifícios coloniais. Pululante de vida, apresenta todas as noites um espectáculo diferente e gratuito, convidando sabiamente a ficar mais tempo do que o que tínhamos planeado. Curiosamente, poucos turistas se vêm no meio da multidão autóctone que desfruta grandemente com os espectáculos. Com noites quentes que convidam ao passeio, os habitantes de Mérida deambulam pela cidade, procurando sempre o local mais animado, nem que seja um simples artista de rua ou mesmo um “engraçadinho”.


A “Vacaria”
A Vacaria, uma representação da antiga festa de marcar o gado, presenteia-nos com as danças tradicionais e os trajes típicos do Iucatão – muito diferentes do resto do México. O Huipil, uma blusa branca ricamente bordada com motivos característicos de cada aldeia é acompanhada por uma saia igualmente branca. Ainda hoje é amplamente usada pelas mulheres mais velhas. Vamo-nos assim deixando ficar, seduzidos pelo encanto de Mérida e dos seus habitantes, fazendo desta cidade o nosso “acampamento base” para explorar as redondezas.
A cidade amarela
Visitamos Izamal, a cidade amarela, com o seu imponente convento. Apesar de lindíssimo não nos podemos esquecer de que das doze pirâmides aqui existentes, apenas uma sobreviveu. Todas as outras serviram de matéria-prima para a construção do convento no sec.XVI, numa louca destruição do império Maia. É, no entanto, uma cidade muito agradável, de ruas limpas e sossegadas e onde provámos o melhor granizado que é possível fazer! Esta bebida, vendida a cada esquina, aqui toma contornos maquiavélicos: gelo raspado com concentrado de fruta à escolha, “quilos” de leite condensado e ainda orchata (parecido com o sabor do arroz doce). É assim o nosso almoço, lanche e ainda fica um restinho para o jantar. Uma outra variante da bebida, machacado, consiste em esmagar no fundo do copo uma fruta à nossa escolha – esta sim verdadeira refeição!
E o céu incendeia-se
Vamos ainda a Celestún, uma reserva ornitológica que nos deslumbra. Com centenas de flamingos de uma cor rosácea forte, a sua plumagem parece incendiar os céus quando levantam voo. Visão sedutora, mas que tentamos a todo o custo evitar, por não ser bom os flamingos mudarem constantemente de local de alimentação. Fazemos um percurso de barco nesta reserva, visitando não só os bancos de flamingos como os cenotes (nascentes de água doce) no meio dos mangais e ainda a floresta de pedra. Devido a um furacão, tão comuns nesta zona, a água do mar entrou pela floresta e, como um feitiço, transformou-a em pedra, num lúgubre cemitério de árvores que morreram em pé. Podemos agora caminhar em determinadas zonas que estremecem à nossa passagem, lembrando-nos que por baixo da fina camada solidificada se escondem perigosas areias movediças.

Cenotes
Os poucos cenotes que tínhamos visitado, aguçaram-nos o apetite para descobrir mais a seu respeito. Um cenote é um poço natural de nascente de água doce que a erosão do solo criou. Existem cenotes abertos, semi-abertos ou fechados, podendo comunicar entre eles por rios subterrâneos. Os Maias usavam estes poços como reservatórios de água, como local de oferendas e sacrifícios e, em teses mais arrojadas, como meio de locomoção nos rios subterrâneos. Alguém nos disse, nesta viagem, que a Península do Iucatão é nas suas profundezas um mar de água doce. Decidimos então visitar os três cenotes sagrados perto de Cuzamá. Num passeio de carroça sobre carris, fomos visitar… e mergulhar, em cada um dos cenotes, cada qual de uma das modalidades referidas. Experiência única em que, numa água do mais límpido possível e estranhamente tépida, partilhámos o nosso banho com passaritos que fazem os seus ninhos nas paredes rochosas da gruta e com morcegos esvoaçantes. O facto de conseguirmos ver até uma grande profundidade eliminava algum receio natural pela nossa vulnerabilidade. A água era tocada pelas raízes pendentes de (imaginávamos) majestosas árvores que perfuraram o solo em busca do precioso líquido. As entradas de luz, pequenos buracos no tecto das grutas, permitem os raios de sol penetrarem nas entranhas da terra e, como um beijo encantado, transformam nesse local a água no mais fabuloso tom de azul, criando um maravilhoso cenário.
O rio dos lagartos
Antes de nos envolvermos nas profundezas das ruínas Maias, ainda fizemos uma incursão à simpática vila piscatória de Rio Lagartos que adquire o seu nome, precisamente pelas suas águas “infestadas” de crocodilos, impedindo-nos assim de um ansiado mergulho. Tem ainda uma fenomenal colónia de flamingos com penas de cor rosa vibrante (ainda mais do que em Celestún), devido à sua alimentação exclusiva de, quase microscópicos, camarões. Após um apaixonante passeio de barco por este estuário, vamos satisfazer a nossa necessidade de mergulho numa aldeia próxima, as Coloradas, sendo a noite reservada para uma festa popular em S. Filipe, com muita animação e comida típica.
Golo!
Implantada sobre a coluna de Puc, Uxmal foi uma importante cidade Maia e, muito mais do que Chichén Itzá, deixou em nós uma marca indelével. Vislumbramos pormenores Maias importantes nos seus diversos edifícios e ainda resistentes e assustadores “mascarones”. Sentimos a presença dos deuses nas estátuas de Chac Mool e nas representações da serpente emplumada. Apesar do sol abrasador, não dispensamos subir à pirâmide do Adivinho de 39m de altura, para uma fantástica vista das ruínas e da selva envolvente. Imaginamos o disputar de um jogo de pelota no seu recuperado campo. Qualquer cidade Maia apresenta um campo deste jogo, em que duas equipas disputavam uma péla (bola) de borracha, lançando-a contra as paredes que delimitavam o campo. Não se podia tocar na bola com as mãos, só com o cotovelo, o pulso e as ancas que estavam protegidas com resguardos de couro. O objectivo era fazer passar a bola por um arco – Golo!
Ruínas, ruínas e… mais ruínas!
Abandonando Mérida, tomamos uma sinuosa estrada pelas colinas de Puc, visitando outros lugares Maias menos importantes, pelo menos assim dizem os entendidos, mas igualmente mágicos: Labná, Sayil, Xlapak e ainda Kabah com o seu maravilhoso palácio cuja fachada está coberta com quase trezentas máscaras de Chac (o Deus da Chuva ou Serpente Emplumada). Em Calakmul atingimos o máximo da humidade e do calor e talvez mesmo do admirável! No meio de uma densa selva, Calakmul esconde-se, só se revelando aos mais persistentes que teimam em enfrentar as numerosas dificuldades e, imensos quilómetros, para aqui chegar. No coração da selva, em comunhão com a natureza, podemos dizer que Calakmul, onde tudo é encanto, é o ex-libris das ruínas Maias que visitámos. Perdida num verdadeiro oceano de selva tropical encontra-se aqui o que foi uma das maiores cidades Maias, com 6.500 edifícios apontados (fora os eu estão por descobrir). Rivalizava em importância e grandiosidade com Tikal na Guatemala e, de facto, faz-nos relembrar esta cidade. Pertencia a uma vasta região conhecida como o Reino da Cabeça da Serpente, havendo indícios de que a sua construção se prolongou durante mais de um milénio. Já extremamente fatigados ainda paramos no regresso para uma breve visita a Bécan que em Maia significa “Caminho da Serpente”, devido ao fosso sinuoso que circunda o lugar. Apesar de bonito, ainda continuamos mesmerizados por Calakmul.
Vamos ao Belize!
Damos, a partir de Chetumal, um pulinho ao Belize ali tão perto. Realmente não seria de desperdiçar a oportunidade de conhecer algo do pequeníssimo país do Belize, apesar do tempo escasso. Concentramo-nos na capital, onde o tempo corre devagar e os seus habitantes de sorriso permanente e contagioso têm tempo de encetar conversa com o turista que passa. De tão pequena que é a Cidade do Belize (capital), ainda nos permite no regresso a Chetumal, mais cedo do que tínhamos previsto, de parar em Corazal e mergulhar nas águas quentes do Caribe. Deixando Chetumal, subimos a Costa Bacalar, parando em diversos pontos do nosso interesse, previamente investigados no guia do Lonely Planet. Encantamo-nos com o Cenote Azul, poço natural de 90m de profundidade que faz jus ao seu nome, com uma água límpida e curiosamente quente. Passamos a manhã de molho, em conversas e risos com outros, tão encantados como nós. Encontramos novamente as mesmas pessoas na Lagoa Bacalar onde, não variando, estamos mergulhados nas suas águas quentes e ainda na bonita lagoa dos Milagres.
Na cabana, junto à praia
Procuramos fugir um pouco do calor e da humidade e estabelecemos base numa das cabanas da Praia de Tulum. Tulum oferece um rosário de cabanas à beira do mar que vão desde o mais luxuoso às mais simples. Claro que a nossa escolha vai para o extremo (mais baixo) da tabela. Apesar de não muito confortáveis, tornam-se o local ideal para aproveitar o mar do Caribe e ao mesmo tempo apreciar as ruínas de Tulum que se erguem misteriosas junto ao mar. Reservamos assim um dia para o delicioso mar quente e turquesa e para passeios no branco areal. No dia seguinte avançaríamos para mais ruínas. As ruínas de Tulum, apesar de não serem grandiosas, encontram o seu encanto pela proximidade com o mar. Entaladas num promontório, debruçam-se sobre o mar turquesa que contrasta com as suas pedras cinzentas. Estas ruínas são “atacadas” por massivas ondas de turistas que sufocam o espaço. O ideal é estar lá na hora de abertura e assim evitar as hordes – mais um ponto a favor das cabanas, próximas das ruínas. Apenas em Tulum e Chichén Itzá se nota este assalto de turistas de praia, devido à sua relativa proximidade com Cancún e Praia del Cármen. Em Cobá, a maior de todas as cidades Maias, próximo da Costa Bacalar, encontramos vertiginosas pirâmides escondidas pela selva tropical. Os seus dias de esplendor datam de 600d.c., tendo sido abandonada em 900d.c. por causas desconhecidas.
E o mar do Caribe!
Deixamos Tulum depois de um maravilhoso nascer do sol, ainda mais espectacular do que o pôr-do-sol, seguido de um mergulho, outra grande vantagem de dormir em plena praia! Em Punta Solimán, encontramos abrigadas baías rodeadas por mangais e protegidas por recifes de coral. Também aqui nos indicam alguns cenotes, porém, alguns crocodilos dissuadem-nos vivamente de um potencial mergulho. Ficamo-nos pelo restaurante Óscar e Lalo, onde nos deliciamos com a nossa extravagância desta viagem – lagosta, de lamber os dedos! Apesar de esta praia oferecer condições óptimas para a prática do mergulho e snorkling, após tão farto almoço, decidimos esperar por Praia del Carmen onde, em Cozumel, encontraríamos um dos melhores locais mundiais de mergulho. Em Paamul, supostamente abrigada baía de belos corais, damos um apressado mergulho, para quase de imediato nos protegermos de uma violenta tempestade (obviamente pelos nossos padrões). Um pouco intimidados, também pelas notícias do já próximo furacão Dean, vamos directos para Praia del Carmen onde deparamos com céu limpo e ruas secas e muitos turistas descontraídos! Contudo…
É melhor ir para casa!
Julgamos encontrar um porto seguro em Praia del Carmen e agora sim íamos desfrutar da outra parte a que nos tínhamos proposto nesta viagem: as praias do Caribe com mergulhos nos seus belos corais. Mas o Dean avizinha-se, observamos preocupados a azáfama de colocar taipais nas janelas e o hotel só nos permite reservar mais uma noite, depois… estamos por nossa conta! Não seria bem assim, mas a Protecção Civil aconselha todos os turistas a regressarem a casa. Antecipamos assim em cinco dias o nosso regresso a casa e novamente, de Cancún apenas sentimos o ar quente e húmido. Directos para o aeroporto tentamos conseguir um voo de regresso a casa – isto foi outra aventura, com peripécias menos agradáveis, mas que não cabem nesta história!
Apesar de um gostinho amargo de não termos feito snorkling numa das melhores zonas mundiais para o efeito, cabe-nos a alegria de ter atingido o grande objectivo da nossa viagem ao Iucatão: viver a magia das diversas ruínas Maias, encontrar mundos perdidos num ADMIRÁVEL DESTINO!

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