domingo, 23 de novembro de 2008

Croácia - Artigo






Cómodo, prático e confortável era o nosso próximo destino. Sem grandes exigências físicas ou psicológicas, era o que nos convinha para umas pequena escapada de uma semana. Com a promessa de um riquíssimo Património Natural e Histórico, este seria também um Admirável Destino – A CROÁCIA.

HOTEL, NEM PENSAR!
Iniciámos a nossa visita pela capital do país, Zagreb. Encontrámos uma cidade bem cuidada, cheia de vida. As pessoas ocupavam descontraidamente as magníficas esplanadas, apesar do frio que se fazia sentir e da neve que começava a cair. Percorremos com calma as suas ruas. Zagreb é relativamente pequena e é no coração da cidade que estão localizados os principais pontos de interesse.
Optando pela maneira mais rápida de nos movermos, de modo a conhecer o máximo possível do país, alugámos um carro, o que se revelou uma decisão deveras compensadora. Na manhã seguinte, pegando no nosso pequeno Skoda, iniciámos o nosso périplo pelo país. Primeira paragem, uma pequena vila piscatória, Volosko, onde encantadoras ruas estreitas, tortuosas e íngremes nos conduziram ao primeiro vislumbre do sedutor Adriático. Proliferam na Península da Istria estas pequenas localidades, fazendo lembrar alegres aldeias italianas. Há aqui uma forte influência italiana, seja pela arquitectura, modo de vida e até mesmo comida – nada mau! Seguimos para a vizinha Opatija, parente elegante e sumptuosa. Com uma marginal de 12Km, possui magníficas casas palacianas, quase todas transformadas em hotéis de luxo. Todo o alojamento em hotel na Croácia é extremamente caro, sendo a opção viável os numerosos quartos e apartamentos particulares devidamente certificados e identificados por uma placa azul.

“VIAGEM AO CENTRO DA TERRA”
Em Pazin encontramos uma paisagem inspiradora de grandes talentos. Foi sobre o carismático abismo desta localidade que Júlio Verne encontrou influxo para a sua “Viagem ao Centro da Terra”. Descemos à garganta deste abismo, contemplando o castelo que se debruça imponentemente sobre nós. Já com a tarde avançada ainda conseguimos chegar a Motovun. Num verdejante vale ergue-se um pequeno monte e, sobre esse monte, uma pequena cidade fortificada. A aproximação a esta cidade vale por si só uma visita, mas não deixamos de nos seduzir com as antigas (e recuperadas) casas, assim como pela vista proporcionada por esta natural elevação. Na manhã seguinte vamos encontrar Porec, beijada pelo sol, desponta magnífica! Uma pequena península entra pelo cintilante Adriático e já as pessoas se movem nos seus afazeres diários, dando vida aos antigos edifícios. Visitamos a Catedral, Património da Humanidade, e percorremos as mesmas ruas mais do que uma vez, tão bonito que é Porec e o seu ambiente. Com pena partimos para Rovinj, mas também aqui vamos encontrar uma magnífica cidade, ainda mais vibrante e encantadora. É característico das cidades da Croácia estarem fechadas ao trânsito, terem sempre uma ou mais marinas com uma grande e cuidada praça, o centro nevrálgico da cidade, pululante de vida. Estamos “apaixonados” por estas pequenas cidades croatas, onde os edifícios estão recuperados e preservados na sua traça. Parece impossível ter sido aqui, há apenas 15 anos atrás, que decorreu uma feia guerra!

ANFITEATRO ROMANO
Também os romanos, há 2000 anos atrás andaram por estas bandas e deixaram o seu testemunho. Em Pula encontramos várias ruínas romanas e um bem preservado anfiteatro romano. A croácia estava-nos a habituar às suas bonitas cidades com a torre central que rompe o aglomerado de casa antigas. Foi assim também em Labin, edifícios bem cuidados, ruas limpas e floridas. O estilo de vida é alegre e descontraído, como para recuperar dos tempos recentes menos áureos. O nível de vida, porém, contrariamente ao que esperaríamos, é idêntico ou superior ao nosso, demonstrando uma capacidade de recuperação fenomenal.

PRIMEIRA TEMPESTADE
Utilizando das inúmeras linhas de “ferries” de que a Croácia dispõe para fazer a interligação das suas ilhas e do continente, fomos para a ilha de Cres. Enfrentando uma pequena mas desagradável tempestade de neve, percorremos de noite o caminho sinuoso e desconhecido até à sua principal e homónima cidade. E depois da tempestade… a bonança! Na manhã seguinte tudo brilhava e o Adriático mais azul do que nunca. A minúscula Valun, com apenas 60 habitantes, Mali Losinj e Veli Losinj, afundavam-se num turquesa cintilante. Mesmo com frio apetece mergulhar nas águas convidativas, cintilantes e calmas. Não fosse por não ter grandes praias de areia (são construídas em betão), a Croácia seria um magnífico destino de praia. Passando a ilha de Krk que nos liga novamente ao continente, avistamos a pequeníssima ilha de Kosljun e o seu Mosteiro Franciscano, num bonito enquadramento. Já no continente visitamos a cidade medieval de Vrbnik em passagem para o interior, a caminho do Parque Natural dos Lagos de Plitvice.

CAMINHAR NUM SONHO

Começamos a cruzar-nos com os limpa-neve, cedo na viagem. A intensa queda de neve torna a estrada perigosa e demoramos o dobro do tempo previsto, num esforço suplementar. Logo à entrada do parque temos uma surpresa agridoce: uma parte do parque está inacessível devido à neve e não é possível conhecê-lo em toda a sua extensão. Contudo…o parque está lindíssimo! Vestido de um manto branco, ainda está imaculado. Somos os primeiros visitantes a chegar. Caminhamos numa paisagem diáfana, como se de um sonho se tratasse. As árvores vergavam os seus troncos com o peso da neve que se desprendia à nossa passagem. Deslumbramo-nos com o harmonioso contraste da neve pura com a água azul dos lagos e das inúmeras cascatas. O Parque Natural Lagos Plitvice tem 19,5 hectares de densa floresta que enclausuram 16 lagos turquesa. Os lagos ligam entre si por uma série de quedas de água e cascatas e são alimentados também por nascentes subterrâneas. Passadiços escorregadios de madeira seguem ao longo dos lagos e ribeiros e permitem uma grande aproximação das cascatas, num estreito contacto com a Natureza. Em 1979, a UNESCO proclamou estes lagos como Património da Humanidade.

PARQUE KRKA

De uma beleza diferente, mas também muito sedutora, o Parque Natural Krka, merece agora a nossa visita. Com uma paisagem de rochedos, penhascos, grutas e abismos é também espectacular. O rio Krka e as suas quedas de água definem a paisagem. A água formou um fundo desfiladeiro e as formações calcárias são barreiras naturais dando origem às cascatas. Os turistas concentram-se junto à maior cascata do parque, Stradinski Buk, com 17 níveis ao longo de 800m e com 46m de altura. Realmente fabulosa! Mas o que dizer também do Mosteiro do séc. XIV que se ergue numa pequeníssima ilha no meio do rio Krka. E, o não menos magnífico cenário, que encerra longe dos olhares menos persistentes um mosteiro Ortodoxo, numa paisagem literalmente paradisíaca, desculpando-se a redundância. Foi neste local idílico que encontrámos fundas cicatrizes resultantes do conflito Servo-Croata. As casas, na sua maioria, estavam completamente queimadas e destruídas. Aqui a reconstrução ainda não chegou e, verdade seja dita, não parece haver muito interesse na recuperação deste território. A região de knim foi até ao último momento território Sérvio e assim continua, tendo sido o último a render-se à Croácia. Crianças brincam na rua, perto de casas em tijolo, tristes campos de refugiados. Olham com surpresa para nós, pois aos turistas é dito, na entrada do parque, que não é possível visitar esta região e o mosteiro. Nós é que não nos rendemos facilmente às convenções, e aqui chegamos para testemunhar as chagas ainda abertas de uma guerra étnica incompreensível. São simpáticos para nós na loja, e mostram alegria em receber turistas. Um misto de tristeza e deslumbramento está em nós presente e passamos distraídos por um sinal de trânsito estranho. Olhamos um para o outro, perguntando mudamente o que era aquilo. Poucos quilómetros depois deparamos com o mesmo sinal, e os nossos sentidos ficam completamente alertas: “Perigo de explosão de Minas”. Um placar explica que aquela zona ainda não foi completamente limpa de minas e que é extremamente proibido circular, com risco da própria vida. Receosos... não, mesmos com medo, voltamos para trás e só respiramos quando encontramos estrada segura.
Visitámos ainda outras cidades interessantíssimas como Zadar, uma pequena península com 4Km de comprimento e apenas 500m de largura, densamente povoada. Tribunj, o “rochedo” com casas que entram umas nas outras. Split, a segunda maior cidade da Croácia, elegantemente entalada entre o mar e altas montanhas. A ilha de Hvar, chamada de “Madeira da Croácia”, a mais verde e solarenga ilha do país. Hvar surpreendeu-nos com a sua cidade, onde no interior das muralhas medievais se erguem magníficos Palácios góticos ricamente ornamentados. Um paredão rodeia todo o porto e uma fortaleza (espanhola) domina a cidade do alto, testemunhando a vida vibrante. Hvar foi merecedora da penosa viagem que tivemos de fazer para a alcançar.

CROÁCIA OU BÓSNIA?
Percorremos novamente a estrada ao longo da costa que liga a Croácia de Norte a Sul. Ou melhor… quase! No Sul da Croácia, onde o país não deve ter mais de 30Km de largura, a estrada atravessa 10Km da Bósnia, para depois entrar novamente na Croácia. Esta situação caricata, permite a Bósnia-Herzgovina ter acesso ao mar, mas implica uma série de burocracias alfandegárias. Devido a obras na estrada, porém, somos desviados da estrada costeira para uma estrada de interior. Andamos assim “perdidos” nas montanhas da Croácia e da Bósnia, tentando adivinhar em que país estaríamos a cada quilómetro percorrido. Felizmente voltámos para a estrada costeira, do lado da Croácia. Atravessámos calmamente os 10Km da Bósnia, sem as burocracias temidas. Vamos finalmente ao encontro da “Pérola do Adriático”, “O Paraíso na Terra”, “Um Oásis de Civilização”.

“A PÉROLA DO ADRIÁTICO”
Cada frase, de ilustres poetas, descreve o aspecto de Dubrovnik, mas não abarca toda a sua grandeza. Ruas de mármore fechadas a qualquer trânsito, edifícios barrocos enclausurados por uma imponente muralha, encantam os numerosos visitantes. Construídas entre o séc. XII e XVI, as muralhas têm 2Km de comprimento, 25m de altura e chegam a atingir 6m de espessura, sendo o ex-libris da cidade. Debruçada sobre o promontório de Lapad, Dubrovnik está recuperada, magnífica, vigorosa, tão resplandecente como outrora. O bombardeamento de Dubrovnik em 1991 horrorizou o mundo. Severamente danificada, enfrentou grandes desafios de recuperação e reconstrução, superados pela tenacidade e resiliência do seu povo.


Era hora de regressar. Íamos apanhar um avião matutino para ainda termos tempo, antes do transbordo para Lisboa, de visitar mais uma vez a capital. Chegamos com uma hora de antecedência ao pequeníssimo aeroporto de Dubrovnik para… perdermos o avião! Não nos tínhamos lembrado da mudança da hora, precisamente naquela noite. Por sorte conseguimos um outro avião antes do voo para Lisboa. Tivemos de fazer algumas concessões na nossa viagem. Pelo caminho ficou a visita ao parque Nacional Brijuni, com as ilhas do mesmo nome; o Parque Paklenica, as ilhas Kornati; Kórcula e tantas outras que merecem fazer parte do itinerário de qualquer viajante. Mas, beleza demora tempo e a Croácia é indubitavelmente bonita, um verdadeiro ADMIRÁVEL DESTINO.

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