quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Chile - Artigo

ADMIRÁVEIS DESTINOS

Dos trópicos ao antárctico, passando pelo deserto, estende-se um país por 4.300km. Na costa América do Sul, encurralado entre o Pacífico e a magnífica cordilheira dos Andes, estende-se o CHILE.
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ESTREITO, MAS LONGO

Apesar de nunca ultrapassar os 180km de largura, com um tão longo país era-nos impossível conhecê-lo todo. Optámos pelo Norte, iniciando a viagem em São Pedro de Atacama, a 2000km da capital, Santiago do Chile. Queríamos visitar o famoso deserto de Atacama com os seus profundos canyons, o altiplano andino com os seus cumes vulcânicos e o Salar de Atacama, o terceiro maior do mundo. O Inverno também se empunha e no Sul do país, de maior beleza, muitos lugares poderiam estar inacessíveis e não queríamos correr esse risco. P1080884

DESOLADOR CHILE

Fomos ao encontro de um país totalmente descaracterizado. Sumiram-se as típicas aldeias andinas com a sua agricultura em terraços. As casas de adobe misturam-se agora com feias chapas de zinco. Sumiram-se os trajes e a cultura tradicionais. Restaram aldeias e cidades de feia arquitectura com centenas de cães (sem exagero) de todas as raças, abandonados pelas ruas, deambulando à procura de comida e de carinho. Esta situação repete-se em qualquer pequena ou grande localidade, aparentemente sem perturbar os habitantes. O desânimo vai-se instalando paulatinamente e, apesar de não nos conseguirmos P1080886 abstrair, procuramos retirar o máximo do pouco que o país nos oferece. Ficam na nossa memória os cumes vulcânicos, de neves eternas, que se pintam maravilhosamente ao pôr-do-sol, fazendo câmbios coloridos hipnotizantes. Maravilhou-nos a Lagoa Chaxa, espelho das montanhas andinas, com as suas três espécies de flamingos incansavelmente à procura de comida. O Salar de Atacama, apesar de um pouco decepcionante pois só em alguns locais estava branco de sal, revelou-se mesmo assim um fenómeno interessante da Natureza, resultado de um lago salino quase completamente evaporado. E ainda a descida em bicicleta desde as Termas de Puritama, um vale com diversas “piscinas”de águas quentes, até São Pedro de Atacama…

BICICLETAS VELOZES

Na pureza da paisagem, tendo como companhia na estrada deserta as fabulosas montanhas dos Andes, um desnível de 800m em 30km permitiu-nos uma descida inebriante, libertadora! As bicicletas “voavam” montanha abaixo (houve apenas uma pequena subida) e se parávamos constantemente era para tirar as indispensáveis recordações fotográficas. O P1080970 sorriso não nos abandonou durante todo este percurso e, ainda eufóricos de adrenalina, resolvemos explorar o Vale da Lua. Agora pedalando penosamente, percorremos a estrada que atravessa uma paisagem surreal de estranhas formações rochosas e sem qualquer forma de vida, apenas povoada por alguns turistas. De aspecto lunar esta paisagem é simultaneamente desoladora, bela e intimidante.CIMG2408

À “CONVERSA” COM LEÕES MARINHOS

Deslocando-nos sempre para sul, dia após dia, vamos encurtando a distância que separa São Pedro de Atacama da capital. Em tão longo percurso apenas é meritória de referência La Serena. Uma bonita cidade, um “oásis”, de arquitectura colonial, edifícios recuperados numa cidade cuidada. É ainda vizinha de Coquimbo que apresenta uma baía com centenas de leões-marinhos, com os quais “travámos conversa” durante horas magnífico e um colorido mercado de peixe. Aqui, abandonámos as cansativas e constantes empanadas, para nos deliciarmos com a carne suculenta do marisco: caranguejo, ouriços, bivalves, tudo vendido em pequenas tacinhas prontas a vender e a consumir. E, ainda assim, experimentámos empanadas de camarão (esta variante ainda não tínhamos À conversa com Leões Marinhos comido)! Estes dois lugares retemperaram as forças e assim enfrentámos a cidade de Valparaíso. Uns jovens chilenos tinham-nos dito que a cidade era feia. Não acreditámos! Agarrados às vibrantes descrições da escritora Isabel Allende, imaginávamos uma cidade cosmopolita e elegante. Contudo a escritora descreve a cidade numa época áurea onde as colinas e os seus ascensores se revestiam de um cunho romântico. A cidade está agora decrépita, com os bonitos edifícios em ruínas, decadente e suja. Já ansiávamos pela desinteressante capital, Santiago do Chile.P1090422

POMPA NO RENDER DA GUARDA

Deparamos com alguns edifícios bonitos e deambulamos pelas ruas pedonais, quase sem destino, tão poucos são os centros de interesse da capital. O Palácio de La Moneda representa uma parte da história recente muito importante. Aqui foi deposto Salvador Allende, o palácio desrespeitosamente bombardeado, e tomou posse Pinochet com uma vergonhosa e longa ditadura. Assistimos aqui ao render da guarda com muitos, muitos soldados, a cavalo, a pé, na banda. Fizeram deste agradável              momento, um pomposo e demorado espectáculo que reuniu não só turistas como habitantes. Adeptos ferrenhos de mercados prestámos visita ao mercado do peixe. Seduzem-nos os sons, os cheiros e a qualidade dos produtos expostos. Não podendo comprar tão fresco peixe, optamos por comer os pratos tradicionais de marisco nas pequenas tascas que abundam no mercado. A comida de “rua” é sem dúvida a melhor e não ficamos desiludidos com a experiência. Novamente estávamos de partida, agora para a ilha da Páscoa. Tínhamos esperança de que agora seria outra história. E foi…

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ILHA DA PÁSCOA É RAPA NUIP1090567

Estranhamente, a Ilha da Páscoa, de nome indígena Rapa Nui, pertence ao Chile. No entanto, esta peculiar ilha não tem rigorosamente nada a ver com o país a que pertence. É uma das ilhas habitadas mais remotas do mundo e geograficamente encontra-se tão longe do Chile como nas suas tradições. Assemelha-se mais a uma ilha polinésia com as suas danças e cantares ondulantes e promessas de paraísos. Uma das finalistas das maravilhas do mundo, Rapa Nui, está envolta em mistério: o CIMG2929mistério de como os primeiros habitantes aqui chegaram, tão longe de tudo. De facto pode-se navegar 1900km em qualquer direcção sem haver outra ilha habitada; o mistério das incontáveis e gigantescas estátuas que a habitam, os Moais; o mistério da sua inusitada falta de árvores. Alvo das mais diversas teorias, das mais bizarras às mais racionais, certo é que do passado nos chega um legado místico.

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MISTERIOSOS MOAIS

Passamos horas a admirar os extraordinários Moais, “saltitando” de lugar em lugar na nossa scooter alugada. Este gigantes de pedra fascinam-nos, não por serem esculturas elegantes ou requintadas (longe disso!), mas pelas suas dimensões e, claro, misterioso significado. Dúvidas e perguntas assaltam-nos, mas são pobremente esclarecidas pelos diversos guias. Os experts não têm respostas conclusivas e concordantes. Nas suas plataformas religiosas (Ahu), eternamente de costas voltadas para o mar, os Moais guardam sigilo da sua história. Ahu Tongariki representa o ex-líbris da ilha, onde quinze Moais abandonadosenormíssimas estátuas estão alinhadas lado a lado, no maior Ahu jamais construído. No entanto, também Ahu Tahai e Ahu Akivi, e tantos outros merecem ser cartão-de-visita. Em Rano Raraku, um vulcão extinto com um lago na sua cratera, encontramos o que foi outrora o local de construção dos Moais. Em diversas fases de construção, encontram-se abandonadas monte abaixo, dezenas de estátuas, mais ou menos enterradas, mais ou menos tombadas. Podemos ainda observar como estes gigantes eram esculpidos, directamente na montanha. Um pedaço do monte rochoso era seleccionado e o Moai começava a ser esculpido, deitado e de costas, retirando-se o excesso de pedra até o soltarem. Alguns deles ainda se encontram perpetuamente agarrados pelas costas, incluído o maior Moai esculpido com 21m. Neste local apenas eram construídos os Moais. Os P1090679controversos “chapéus” são feitos de uma outra pedra, avermelhada, de um outro vulcão da ilha. Também estes enormes adereços são alvo de especulações, sendo a teoria mais aceite que se trata de um penteado usado na altura!? Ainda numa outra cratera, num outro vulcão extinto e também ele com um lago no seu interior, edificou-se a vila cerimonial de Orongo. Algumas casas foram aqui reconstruídas, ajudando à imaginação do local e das supostas cerimónias.

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NA PRAIA DE INVERNO

Apesar de ser Inverno, os dias são quentes e húmidos e convidam-nos para uma tarde na praia. Em Anakena, a única praia da ilha, apreciamos o Ahu Ature Huki, mais uns gigantes de costas voltadas para o mar, alheios ao espectáculo que se P1090706desenrola na praia. Uns habitantes locais, vestidos apenas com penas, tal como os seus antepassados, divertem-se a subir aos coqueiros e a “importunar” os turistas oferecendo água de coco e pinturas corporais, a troco de… apenas diversão! As noites frias são ocupadas com ida ao “cinema” para ver o criticado filme de kevin Costner – Rapa Nui – que apresenta P1090777hollyoodescamente teorias tão ridículas e tão pouco credíveis como tantas outras e ainda com o fabuloso Ballet KariKari. As danças tradicionais da ilha são recuperadas por um grupo de vigorosos e tatuados dançarinos e formosas e ondulantes dançarinas. Somos deliciosamente transportados para verdadeira natureza desta ilha, a polinésia, que só por engano é chilena.

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A PÉ PARA O AEROPORTO

Nesta ilha até a partida é diferente: carregando as mochilas às costas, montamos na nossa scooter e dirigimo-nos ao aeroporto. Descontraidamente fazemos o check in e tornamos a sair do terminal. Entregamos a moto e ocupamos as duas horas de intervalo, dando uma última vista de olhos pela “cidade” Hanga Roa, apanhando sol, despedindo-nos dos Moais e P1090835comendo um saboroso gelado. Calmamente vamos a pé para o aeroporto, apenas a 1km da cidade. Foi o melhor tempo de espera que já tivemos. Tomara que todos os aeroportos fossem assim!

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Com verdade não podemos dizer que o Chile é um admirável destino. Foi talvez o destino menos motivante e interessante no nosso percurso e falta-nos a vontade para conhecer o sul. Mas falando de Rapa Nui, falando da mítica ilha da Páscoa, falamos de um intrigante e ADMIRÁVEL DESTINO.

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