sábado, 3 de fevereiro de 2007

Turquia

TURQUIA – ADMIRÁVEL DESTINO
Com mais de 7000Km de costa e uma média de 300 dias de sol por ano, as terras altas com as suas vistas cénicas e variadas das quais consta o biblíco Mt Ararat, o mar negro e o mar mediterrâneo, os seus extintos vulcões, a lunar Capadócia, as ruínas e a riqueza histórica e arquitectónica, tornam a Turquia um destino a considerar, um potencial admirável destino!



A “PARIS” DO ORIENTE.
Esta designação assenta à antiga capital da Turquia, Istambul, pela sumptuosidade dos edifícios e pela opulência que se respira em cada esquina, ao nos depararmos com mais uma riqueza de uma outra era, habitada por temíveis Sultões. A magia da mesquita azul, assim designada devido aos inúmeros azulejos azuis de desenhos geométricos, que sussurram segredos nas imensas galerias (infelizmente fechadas ao público). A calma que sente em Aya Sofia, apreciando os seus minúsculos mosaicos, dispostos em artísticos painéis, autênticas obras de arte. Mesquitas fabulosas, outrora catedrais, sinal de que as religiões podem coexistir e, quem sabe, completarem-se. Deambulamos pelas ruas que nos conduzem ao opulento palácio Topkapi, ao antigo hipódromo, à sombria e sussurrante cisterna Sunken às misteriosas mesquitas de Saloman, ao bulício de Kapali Çarsi, o grande bazar, com as suas 4000 lojas repletas dos mais variados e estranhos artigos, paraíso para os turistas com o seu rico e apelativo artesanato. Somos abordados por frenéticos comerciantes que nos convidam a entrar para a sua “tenda”, beber um çay (chá), com vista a connosco encetarem negócio. Não são, porém, tão insistentes como esperaríamos, e as compras das lembranças decorre com tranquilidade. Olhamos fascinados para as bancas onde estão expostas odoríficas especiarias vibrantes de cores, inúmeros chás que curam todas as maleitas ou simplesmente agradam o paladar, os doces elaborados chamados de delícias turcas, ou a imensa quinquilharia de metal onde, apesar de abundantes, não resistimos a esfregar aquela lâmpada de “Aladino”, retirada do imenso monte.



UM PÉ NA EUROPA E OUTRO NA ÁSIA
Observamos o estreito de Bósforo, separação natural da derradeira cidade europeia e a porta da Ásia, que nos permite metaforicamente ter um pé na Europa e outro na Ásia. Istambul representa a confusa ligação entre o Ocidente e o Oriente, toda a carga que isso implica, acrescido pela mescla de tradições, rituais de religiões e toda uma herança cultural e arquitetónica dos inúmeros povos que a cobiçaram e tentaram possuir, e que deixaram a sua marca. De todas as tradições existentes, a mais sublime é sem dúvida o fabuloso “banho turco”.



SUBLIME BANHO TURCO
Afastem-se os preconceitos pois que de tão refrescante e revigorante, mereceu uma segunda experiência. Istambul está repleta de “Hammans”, salas de banho antiquíssimas, testemunho de um hábito salutar e impressionantemente perdurável. Ricas em pormenores, luxuosas nas suas fontes e lajes de mármore, desmistificam o que de pejorativo se pensa acerca do banho turco. Assim, depois de uma cuidada procura, escolhemos uma Hamman que nos proporciona salas iguais para homens e mulheres (neste mundo de homens, as salas para as mulheres tendem a ser consideravelmente inferiores) onde, separadamente, nos deparamos com uma grande laje de mármore aquecida. Depois de repousarmos e nos aquecermos um pouco, aproxima-se a massagista de espuma (mais uma vez, ao compararmos experiências, chegamos à conclusão que a massagem dos homens é melhor) que nos faz um tratamento completo desde a esfoliação da pele à lavagem do cabelo. Experienciamos a luxúria de sermos servidos, de nos banharem com a água que brota ininterruptamente das pequenas fontes de mármore, que as massagistas vertem no nosso corpo com a ajuda de uma não menos graciosa taça de latão, cuja configuração também permite fazer de base ao pescoço quando deitados. Podemos ainda, se assim o desejarmos (e pagarmos por isso), usufruir de uma massagem de óleo que nos deixa perfumados e hidratados. Saímos deste banho cansados mas, estranhamente revigorados, prontos para, novamente, enfrentarmos novas etapas de descoberta. Voltaríamos a esta cidade para assistir à passagem de ano e seguidamente regressar a casa.

SEM BAGAGENS…
De novo em viagem, atormentados pelo mau tempo e voos adiados (o país é tão grande que necessita de deslocações em avião), aterramos no nosso destino 14h após o previsto. Meia-noite, temperatura de 18º negativos, sem bagagem (tinha sido perdida nas alterações dos voos) e sem alojamento, tornou-se este momento algo preocupante. Mas, como em tudo, algo de positivo sempre acontece, coube-nos em sorte partilhar o táxi com um casal de belgas (que também tinha ficado sem bagagens) que possuíam uma casa nesta região da Capadócia e que nos adoptaram literalmente. Indicaram-nos a pensão de uns amigos, numa outra vila perto daquela que planeáramos ficar, pois todas aquelas que tentávamos se encontravam fechadas devido ao adiantado da hora e da congelante temperatura. Esta pensão revelou-se exactamente o que procurávamos: uma casa escavada na rocha, com uma autenticidade quase familiar, comida tradicional e um refúgio excelente após as sete horas da tarde – após esta hora, com o sol escondido, umas simples calças de ganga não eram agasalho suficiente para andar na rua.. O nosso casal belga partilhava das honras da casa e servia-nos de intérprete, embora muitos turcos falem francês devido a terem estado emigrados. Partilhámos conversas, ouvimos canções tradicionais acompanhadas pelo som de lindos instrumentos de latão e a bebemos inúmeros copos de çay. Foram ainda incansáveis em contactos com o aeroporto, relativamente às nossas bagagens, que chegaram apenas três dias depois. Escusado será dizer que este contacto com os locais é apenas e exclusivamente com os homens, pois a religião e os costumes ainda assim o exigem.

CAPADÓCIA – PAISAGEM LUNAR
Na manhã seguinte, deslumbrámo-nos perante uma paisagem surreal! Ouvimos continuamente (e logo pelas 5h da manhã!) o chamamento à oração nos altifalantes dos vários minaretes que fazem eco entre si, entoando pelos vales, criando uma cacofonia harmoniosa. Deparam-se aos nossos olhos aldeias cor de terra, escondidas pela neve que, num olhar mais atento, revelam ser as famosas casas escavadas na rocha que serviam e servem de morada aos habitantes desta região. Descortinamos tímidas chaminés em cones rochosos, fumegando e revelando vida na paisagem lunar. Goreme, onde tínhamos planeado ficar, e Uchisar, vila onde ficamos, são talvez, o ex-libris desta particularidade da natureza e engenho humano, com grandiosas construções, os Kale (castelos) em ruínas, ou simples casas de habitação que curiosos, procuramos obter algumas informações a seu respeito: a sua temperatura interior é de uns constantes 15º; a textura da rocha é muito porosa e fácil de escavar, mas endurece quando em contacto com o ar. Sentimos a magia de estar dentro de uma verdadeira rocha, em pequenos cafés ou restaurantes, decorados e adoçados na sua austeridade com inúmeras tapeçarias, almofadas e o imprescindível fogão a lenha, que tornam o ambiente confortável, convidativo e mesmo acolhedor.

ARTESANATO CALDENSE
A Capadócia é dotada de formações rochosas extraordinárias, fruto da erosão do vento e da água. O mais curioso é que cada vale se caracteriza por formações rochosas diferentes, construções naturais, influenciadas pela direcção do vento e pela quantidade de água. Caminhamos pelo Vale dos Pombos, primeira experiência partilhada pela companhia de um simpático cachorro; o Vale das Espadas, onde avistamos ao longe o Kale (castelo de rocha) de Uchisar; o Vale Rosado, cujo tom da terra num jogo de luz com o sol lhe confere esse nome. Aqui e, após longas horas de caminhada para vermos a mais antiga igreja da Capadócia escavada na rocha, somos assustadoramente surpreendidos pelo rápido anoitecer entre os cumes, agora ameaçadores. Nestes diferentes vales encontramos simples cones, cones aguçados com grandes pedregulhos redondos em cima, como se de uma chaminé se tratasse, pedras completamente lisas tamponando grandes rochas e ainda outras formas curiosas... que nos deixam sorridentes, pensando no famoso artesanato das Caldas! Poderia parecer que estas formações estéreis também o seriam no seu interior. Porém, no Museu ao Ar Livre de Goreme, no interior de monocrómicas rochas, deparamo-nos com autênticas catedrais de pinturas quentes, relicários da religiosidade cristã dos séculos XI e XII, cenas representativas de uma religião, agora repudiada pela população actual. Foram necessários vários actos de vil vandalismo face a estas obras de arte para, finalmente, ser reconhecido como potencial destino turístico e... inestimável fonte de rendimento. Talvez menos conhecidas ainda, encontramos nesta região da Capadócia as Cidades Subterrâneas, testemunho de um povo que preferia esconder-se e preservar os seus habitantes, a entrar em conflitos sangrentos e enfrentar a morte certa. Das trinta e seis cidades subterrâneas desta região, datadas imaginem do tempo dos Hititas, de há 4000 mil anos, Kaymakli e Derinkuyu são as maiores e mais representativas. Pura fascinação e mistério, enquanto descemos às profundezas da terra por estreitas e claustrofóbicas passagens, que nos conduzem através de diversos níveis a uma complexa cidade, com buracos aqui e ali, janelas e portas entre divisões, como um gigantesco queijo suíço, do qual não encontraríamos a saída sem a ajuda das setas ou do guia. Quando ameaçados, tudo era transportado para os subterrâneos e, a população troglodita poderia aí permanecer sem necessidade de voltar à superfície, até seis meses. Desde estábulos, prisões, igrejas, escolas, cozinhas comunitárias, etc. (estas cidades tem vestígios de habitabilidade até ao séc. VII d.c.), somos testemunhas de uma incrível obra de engenharia com condutas de renovação de ar, sistemas de expulsão de fumos a quilómetros de distância para despistar os invasores – só não se poderia ser claustrofóbico


CASTELO DE ALGODÃO -PAMUKALLE
Desta fabulosa e mítica paisagem, passamos para uma outra igualmente estranha, após um percurso nocturno de 10h de autocarro. Uma montanha de branco imaculado não pela neve, mas fruto do calcário de águas termais que, século após século, construiu um castelo de algodão, com pequenas piscinas em cascata, palco antigo de deliciosos banhos. Devido à sua utilização excessiva, é agora proibido aos visitantes banharem-se nestas piscinas, ficando este prazer reservado à piscina do hotel, cujo o fundo é enriquecido com ruínas dos antigos utilizadores deste manancial. De facto, por trás desta montanha, encontramos as ruínas de um grande complexo grego, com alterações romanas, que nos levam a constatar que não somos os fenomenais descobridores destes recursos naturais. No meio de ruínas, antiquíssimas e valiosíssimas, somos chamados à realidade pelo balido das ovelhas que ali pastoreiam as verdes ervas. Contornando os obstáculos das ruínas históricas, vão respondendo ao chamamento do seu pastor, vestido a rigor na sua capa de verdadeira pele de ovelha. Ficamos na dúvida do que nos encanta mais.

OBRAS NO CASTELO
Quis a sorte, ou a falta dela, que na precisa altura que visitámos esta relíquia da Natureza, as águas termais que correm continuamente em cascata, estivessem cortadas. Uma vez por ano, para “manutenção” deste gigante branco, a água é cortada, de forma a preservar o branco imaculado na eliminação de fungos e permitir o endurecimento do calcário, de forma a não se desfazer sobre os pés dos turistas, apesar de (agora) obrigatoriamente descalços. Bem perto de Pamukalle, em Karahiati, repete-se o mesmo fenómeno desta construção de cascatas naturais, embora devido à composição das águas, o efeito seja um arco-íris de cores quentes e vibrantes que resplandecem debaixo da névoa. Inferior, não em beleza mas em dimensão, não atrai tantos turistas, sendo a sua utilização compensada pelos habitantes da Turquia, conhecedores dos poderes curativos das suas águas termais. Com um complexo de pensões usadas durante todo o ano, cada qual com a sua fonte privada de água termal, esta vila torna-se mais acolhedora, organizada e atraente do que propriamente Pamukalle. Visitamos ainda Afrodisia, ruínas a quem a Deusa Afrodite deu o seu nome e que fazem jus ao seu misticismo. Estas ruínas, ladeadas por imponentes montanhas de cume branco, guardam no seu interior relíquias ainda por descobrir e maravilhas ainda por classificar.


ESTRANHA PASSAGEM DE ANO
Regressamos a Istambul para uma estranha passagem de ano, onde através das janelas entrevemos danças do ventre e danças cerviche em estabelecimentos a abarrotar que requeriam marcação prévia, nada que a nossa maneira de viajar permita. Uma festa de rua que pareceu apelativa, pois misturarmo-nos com a população é sempre a nossa primeira escolha. Contudo, face a um ecrã que passava continuamente as mesmas imagens, face a um palco vazio (excepto uma grande aparelhagem que reproduzia continuamente uma música tecno mal definida), e a um parco fogo de artifício, estranhamente parecíamos ser os únicos a não nos divertirmos e a partilhar da euforia colectiva.

UMA DIRECTA…Quase de imediato, partimos para o aeroporto para o retorno a casa, conscientes de que a Turquia é um país imenso e que tantas coisas ficaram por ver, igualmente fabulosas, mas contentes com mais um vislumbre de um ADMIRÁVEL DESTINO.

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