“Que engraçado!”, dizem as pessoas quando comunicamos o nosso próximo destino de férias. Tentamos explicar que vamos ao encontro da história, desvendar mistérios, conhecer o interior das fronteiras de um país que, esperamos, admirável: o Perú.
PERÚ, TESOURO INCA
O Perú é o depositário dos tesouros da civilização Inca, aquele povo que em apenas 500 anos dominou as diferentes civilizações da América do Sul, simplesmente porque conheciam as técnicas de agricultura indispensáveis à subsistência. Confiantes e ingénuos perante o aparecimento dos espanhóis, em apenas 5 dias caíram às mãos de Pizarro. A Coroa espanhola, porém, não erradicou anos de história e civilização e não apagou o orgulho de um povo que se começa agora a valorizar. É notório o orgulho que sentem ao dizer que são quechuas puros e não ladinos (mistura de índio com espanhol) e é notória a grande mágoa com os espanhóis que, conscientes da veia sanguinária dos seus antepassados, se abstêm de fazer turismo por estas regiões.
Parihuela – que delícia!
Iniciámos a nossa viagem pelo presente, visitando a reserva natural das ilhas Ballestas. Repletas de vida animal e cobertas de guano, excrementos das aves marinhas retirados a cada 7 anos para fabricar adubo da melhor qualidade. Estas ilhas são palco de um som ensurdecedor, capaz de nos fazer pensar que estamos isolados no meio do mar e que nunca ninguém ali teria posto pé. Contudo, tivemos um primeiro vislumbre de um passado misterioso e desconhecido, bem anterior ao período Inca. Numa encosta, escavado na terra rochosa, com cerca de 50cm de profundidade, encontrava-se uma imagem imensa, apelidada de o “candelabro”, pela sua semelhança com este objecto, que nos deixa boquiabertos e intrigados com a sua similaridade

Extra-terrestres?
Depois desta profusão de vida, o contraste. O deserto de Paracas, um dos mais áridos da Terra, abriga um dos fenómenos mais misteriosos do nosso planeta – as extraordinárias linhas de Nazca, apelidadas assim devido à sua proximidade com a desoladora cidade de Nazca. Descobertas por acaso do ar, só assim mostram a sua imensidão, pois, dada as suas fenomenais dimensões, poderíamos estar lado a lado com elas no solo e, encarar as profundas depressões no terreno, como mais um capricho da Natureza. O facto é que alguém, muito anterior ao nosso tempo, encontrou algum interesse nesta terra desolada e escavou na rocha, à semelhança do “candelabro”, umas linhas rectilíneas, representativas de variadas figuras que ninguém consegue explicar, datar ou justificar. Ao fim de algum tempo sobrevoando num oscilante bimotor o “colibri”, as “mãos”, a “aranha”, o “condor”, o “papagaio”, o “albatroz”, o “astronauta”, estas figuras já não pareciam assim tão rectilíneas, nem as explicações para o seu aparecimento tão absurdas. No meio de tantas teorias, o facto de terem sido extra-terrestres a produzirem esta arte, mostrava-se tão credível como qualquer outra. Porque não pode o Homem dizer simplesmente “não sabemos”? As linhas de Nazca prepararam-nos para o facto de que ninguém tem certezas algumas e que, dependendo do guia que nos acompanha, são providas informações consoante as convicções de qualquer douto investigador. Foi assim durante todo o percurso no Perú, bombardearam-nos com teorias que nos faziam sorrir de tão imaginativas. Uma pedra com uma forma peculiar poderia ser apenas isso, não é forçoso que os Incas tenham querido ali representar qualquer Deus ou atribuir qualquer significado divino. O nosso apreço, perante gloriosas construções, é o mesmo!
Será que podemos?
Da desoladora cidade de Nazca, passámos à linda cidade de Arequipa, com apenas um dia para a explorar. Não perdemos tempo, deambulámos pela cidade apreciando o legado espanhol nos bonitos edifícios coloniais. Parámos em frente a um excepcionalmente bonito, agora utilizado, segundo a placa identificativa, como Banco Central do Peru. Como edifício governamental abstivemo-nos de tirar fotografias, dissuadidos pela presença de um guarda uniformizado. Qual não foi o nosso espanto quando, esse mesmo guarda, sorriu e nos convidou a entrar! As nossas pernas estavam confusas com as ordens contraditórias do nosso cérebro: “Será que podemos?”. Com o nosso guarda particular a servir-nos de guia, deslumbrámo-nos com a imponente arquitectura espanhola e com a simpatia de com quem nos cruzávamos nas magníficas galerias. Ainda atordoados continuámos pelas ruas, comentando as diferenças culturais com o “mundo civilizado”, quando a curiosidade nos levou a meter o nariz no portão de uma escola. Desta vez fomos apanhados pelo professor. Gaguejantes, tentámos explicar que tínhamos visto uns adolescentes com uns fatos coloridos lindíssimos a entrar. A sua face abriu-se num sorriso perante o nosso interesse e, desde logo, nos convidou a assistir a um festival de danças tradicionais das várias regiões do país, pelos alunos de todas as escolas da região. Inacreditável! Que oportunidade, que coisa tão fantástica! E fantástico foi deveras o espectáculo, mesmo quando o simpático professor e apresentador da festa, pediu um aplauso para “os amigos portugueses que vieram tirar fotos”. Com o vermelho da nossa bandeira transferido para as nossas faces, levantámo-nos e acenámos a 300 desconhecidos que não compreenderam que o grande privilégio era nosso e não deles!
De avião para Puno, cidade mais próxima do lago Titicaca, coube-nos em recepção, um grupo de músicos que tocava lindamente os sons peruanos. Indolentes, não compreendíamos a razão para estar tão cansados, já tínhamos sentido algo parecido em Arequipa, mas não ligámos. O simples facto de subir um lance de escadas deixava-nos sem fôlego, ao andar na rua tínhamos de moderar o passo. Até que finalmente nos atingiu: o lago Titicaca encontra-se a 3810m de altitude, é o lago navegável mais alto do mundo e, os tão falados efeitos da altitude, começaram a sentir-se. Só experienciando se consegue dar valor ao esforço exigido ao nosso corpo com um simples movimento. A rarefacção do oxigénio faz-nos abrandar, ter dores de cabeça e sentir uma ligeira, mas constante náusea. Nesta parte do mundo e, apenas a esta altitude, nada que um chá de coca não cure!
Coca não é cocaína
Vem à mente um slogan visto em Sevilha na Expo’92 no pavilhão da Bolívia que dizia “Coca no es cocaína”. Descoberta pelos Incas, que a mastigavam para obter uma energia adicional para os seus inúmeros combates, a folha de coca faz um excelente chá e, sem transformação química, apresenta-se como uma deliciosa infusão medicinal capaz de aliviar as nossas maleitas. Fomos então ao encontro do lago de onde surgiu o Inca divino, Viracocha, à descoberta das ilhas dos Uros. Estas ilhas flutuantes, feitas de um junco que cresce em abundância no lago, apresentam um perpétuo baloiçar a cada passo dado. Existem várias ilhas que, infelizmente se começam a virar demasiado para o turismo, fonte de rendimento muito maior do que a tradicional pesca. No entanto, é interessante descobrir que se pressionarmos o nosso pé demasiado tempo no mesmo sítio começa a surgir água. É de admirar a paciência daqueles que todas as semanas têm de acrescentar uma camada nova de junco seco, para manterem o nível da ilha. É deslumbrante olhar para as pessoas que pintam a paisagem monocrómica das ilhas de junco, das casas de junco e dos maravilhosos barcos alados de junco. Afinal o imaginário existe no real! Prosseguimos para a ilha de Taquille, esta erigida pela Mãe Natureza, mas também ela reflexo de tradições tão peculiares, ou talvez não, em que o trabalho masculino é todo aquele que pressupõe uma posição vertical e o trabalho feminino um trabalho horizontal. Assim, é comum encontrar homens na rua a tricotar e as mulheres no campo a apascentar os animais. É comum encontrar rebanhos de lamas e alpacas e assalta-nos o desejo de os ver mais de perto, estudar as suas diferentes características. Mas cuidado, mordem!
Trocando o barco pelo comboio, a caminho outra vez, o nosso destino seria a cidade de Cusco, o umbigo do mundo. Apelidada assim em quechua, os Incas consideravam esta terra como o centro do mundo e aí estabeleceram o núcleo do seu império. Tal como Cusco, encontramos muitas outras designações na língua quechua, língua exclusiva fora dos centros urbanos. As tentativas de comunicação encontram barreiras quer com a língua oficial do país, o espanhol, quer com o nosso excelente “portunhol”. Esta cidade põe-nos estonteados pela beleza e solenidade que comporta, em que construções coloniais se erguem nos alicerces de poderosas construções Incas. O nosso desejo de conhecer mais profundamente o meio de viver inca leva-nos a ignorar alguns fabulosos monumentos deixados pelos espanhóis. Mas não é de ignorar a magnífica Praça de Armas repleta de vida, de comércio e de oferta turística. Somos quase levados em mãos para conhecer os arredores, apreciar o colorido mercado de Pisac, onde afagámos os engraçados cuy, porquinhos-da-índia que seriam a refeição de alguém. Admirámos as intrigantes e gigantescas “pedras cansadas” em Ollamtaytambo, abandonadas no caminho por razão desconhecida. Perdemo-nos na grandiosidade de Sacsayhuaman, com as suas pedras descomunais unidas com tanta precisão que não deixam espaço para um simples líquen crescer. A nossa imaginação leva-nos a reconstituir gloriosas cerimónias e admiramos o poderio Inca pelo seu conhecimento das práticas de agricultura, arquitectura e astronomia.
Calçada Inca
Ansiando pelo caminho Inca que nos levaria a subir montes da cordilheira dos Andes, resolvemos apreciar primeiro de perto a beleza do vale de Urubamba. Numa expedição de bicicleta que se revelou traumática pela dificuldade da proeza: considere-se que embora seja um vale, este está a uma altitude considerável, para além de que andar numa bicicleta sem mudanças e de pneus vazios, requer… o regresso de transporte público. O
rafting no rio Urubamba, afluente do Amazonas, levou-nos a sentir o fulgor das suas águas e a ter a dose de adrenalina para esta viagem, ou assim julgámos nós…
Saindo do comboio no Km82, iniciámos o caminho Inca, num percurso de 5 dias pela sua infinita “calçada”. Não tardou que magníficas e impossíveis construções incas se glorificassem aos nossos olhos, levando-nos, novamente, a reflectir sobre a força de vontade de um povo. Encontramos construções sobre inacessíveis escarpas, porque ali era melhor local para guardar os cereais, e bonitos templos edificados aos seus deuses. Apreciamos llactapata, Runcurucay, Sayacmara e quase choramos quando ouvimos a lenda de Huñay Huayna -Sempre Jovem. Prosseguimos o nosso caminho com um objectivo muito preciso em mente: Machu Pichu. Este caminho que se revela difícil, pelo seu traçado, pelo seu piso e sobretudo pela altitude a que se desenrola, é no entanto fascinante. Iniciámos a caminhada a uma altitude de 2.840m, para atingirmos um máximo de 4.200m, ao passarmos o cólo da mulher morta, Huarminhuañusca. Aqui foi encontrada a múmia Inca que permitiu desvendar um pouco mais dos costumes deste povo, a famosa “Juanita”. Estando prestada a nossa homenagem, instala-se a sensação de conquista e o alívio de que, a partir dali, seria a descer! Aprendemos a respeitar os efeitos da altitude, a valorizá-la, mas ficou-nos o bichinho do desejo de experimentar voos mais altos – mas essa é outra história!
Trovoada em estereofonia
Merecido seria o descanso desse dia no nosso acampamento que apresentava uma paisagem deslumbrante, companheiros bem dispostos pelo pisco (bebida típica do Perú) e comida excelente. Estes são os momentos ideais para confraternizar com os membros da equipa, neste caso 11 carregadores, um cozinheiro e um guia, para apenas quatro turistas. Todos estes factores seriam semelhantes ao das noites anteriores, não fosse, a meio da noite, na mais completa escuridão, rebentar uma trovoada que parecia vir de todos os lados, que iluminava as tendas e feria os nossos olhos fechados e, nós ali tão pertinho do céu! Continuámo-nos a instruir sobre os gloriosos feitos dos Incas, ansiando pelo culminar do nosso percurso e, ao mesmo tempo, desejando que não acabasse. Chegámos assim um conjunto de ruínas num estreito cólo que permite observar de cima Machu Pichu, o Portão do sol, aquele que dá acesso à magnífica cidade secreta dos Incas. Após longa e árdua caminhada, os nossos passos apressam-se, ansiando pelo momento, a nossa respiração acelera-se, antecipando a emoção, quase que trepamos com as mãos para encarar esta cidade mística, onde se desvaneceram na bruma os últimos Incas, onde a névoa encerra o mistério, onde reina o misticismo e, assim, deparámos com Machu Pichu!

Enfim, Machu Pichu
Não é possível descrever. Ficámos estonteados, não houve frases gloriosas, comentários inteligentes, nem uma banda sonora retumbante como nos filmes de Hollywood. Emudecemos e, simplesmente contemplámos! Machu Pichu é muito mais do que as palavras podem descrever ou os livros ensinar. Machu Pichu é uma experiência de vida, é emoção, é sentimento, é poesia!
Ansiando pelo caminho Inca que nos levaria a subir montes da cordilheira dos Andes, resolvemos apreciar primeiro de perto a beleza do vale de Urubamba. Numa expedição de bicicleta que se revelou traumática pela dificuldade da proeza: considere-se que embora seja um vale, este está a uma altitude considerável, para além de que andar numa bicicleta sem mudanças e de pneus vazios, requer… o regresso de transporte público. O
Saindo do comboio no Km82, iniciámos o caminho Inca, num percurso de 5 dias pela sua infinita “calçada”. Não tardou que magníficas e impossíveis construções incas se glorificassem aos nossos olhos, levando-nos, novamente, a reflectir sobre a força de vontade de um povo. Encontramos construções sobre inacessíveis escarpas, porque ali era melhor local para guardar os cereais, e bonitos templos edificados aos seus deuses. Apreciamos llactapata, Runcurucay, Sayacmara e quase choramos quando ouvimos a lenda de Huñay Huayna -Sempre Jovem. Prosseguimos o nosso caminho com um objectivo muito preciso em mente: Machu Pichu. Este caminho que se revela difícil, pelo seu traçado, pelo seu piso e sobretudo pela altitude a que se desenrola, é no entanto fascinante. Iniciámos a caminhada a uma altitude de 2.840m, para atingirmos um máximo de 4.200m, ao passarmos o cólo da mulher morta, Huarminhuañusca. Aqui foi encontrada a múmia Inca que permitiu desvendar um pouco mais dos costumes deste povo, a famosa “Juanita”. Estando prestada a nossa homenagem, instala-se a sensação de conquista e o alívio de que, a partir dali, seria a descer! Aprendemos a respeitar os efeitos da altitude, a valorizá-la, mas ficou-nos o bichinho do desejo de experimentar voos mais altos – mas essa é outra história!
Merecido seria o descanso desse dia no nosso acampamento que apresentava uma paisagem deslumbrante, companheiros bem dispostos pelo pisco (bebida típica do Perú) e comida excelente. Estes são os momentos ideais para confraternizar com os membros da equipa, neste caso 11 carregadores, um cozinheiro e um guia, para apenas quatro turistas. Todos estes factores seriam semelhantes ao das noites anteriores, não fosse, a meio da noite, na mais completa escuridão, rebentar uma trovoada que parecia vir de todos os lados, que iluminava as tendas e feria os nossos olhos fechados e, nós ali tão pertinho do céu! Continuámo-nos a instruir sobre os gloriosos feitos dos Incas, ansiando pelo culminar do nosso percurso e, ao mesmo tempo, desejando que não acabasse. Chegámos assim um conjunto de ruínas num estreito cólo que permite observar de cima Machu Pichu, o Portão do sol, aquele que dá acesso à magnífica cidade secreta dos Incas. Após longa e árdua caminhada, os nossos passos apressam-se, ansiando pelo momento, a nossa respiração acelera-se, antecipando a emoção, quase que trepamos com as mãos para encarar esta cidade mística, onde se desvaneceram na bruma os últimos Incas, onde a névoa encerra o mistério, onde reina o misticismo e, assim, deparámos com Machu Pichu!

Enfim, Machu Pichu
Não é possível descrever. Ficámos estonteados, não houve frases gloriosas, comentários inteligentes, nem uma banda sonora retumbante como nos filmes de Hollywood. Emudecemos e, simplesmente contemplámos! Machu Pichu é muito mais do que as palavras podem descrever ou os livros ensinar. Machu Pichu é uma experiência de vida, é emoção, é sentimento, é poesia!
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