quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Escócia - Artigo


ADMIRÁVEIS DESTINOS
Lendas intemporais carregadas de mitos, rituais mágicos e esotéricos. Lutas de Clãs de bravos guerreiros que defendem o seu território. Castelos em ruínas, testemunho de séculos de história. Castelos imponentes perdidos numa imensidão de verde, história viva em belas paisagens. Fascínio. Tudo isto nos prometia o nosso próximo destino: A Escócia.

É Natal, tudo encerrado
“Qualquer altura é boa para visitar a Escócia”, diz o guia do Lonely Planet. Certamente em qualquer altura do ano a Escócia oferece belas paisagens de verde intenso ou cobertas por um manto de neve. Em qualquer altura, a bruma constante apela à imaginação da existência de seres míticos. Em qualquer altura, os castelos relembram tempos perdidos e actuais. No entanto, a época natalícia não é certamente a melhor opção. O dia curtíssimo que nos mergulha num lusco-fusco, logo após as 15h30; os transportes públicos mais reduzidos; os alojamentos (essencialmente B§B) estão em família; e os castelos encontram-se na sua maioria encerrados. É essencial tirar o melhor partido da situação, se não conseguimos ver o interior, veremos o exterior: imponente sobre a sua colina o castelo de Stirling encerra promessa de um interior glamoroso. Avistamos ao longe o monumento a Wallace, patriota escocês que combateu acerrimamente os ingleses e personificado por Mel Gibson em Brave Heart. Dominando Edimburgo encontra-se o seu grande castelo, base principal do exército britânico na Escócia. Felizmente, encontra-se aberto ao público e será este o nosso único testemunho de belos interiores de castelos ainda em uso.


Comendo Haggis
Edimburgo apresenta-se soturna, de edifícios bonitos mas escuros e tristes. Porém, um olhar mais atento revela os encantos desta cidade, a sua ponte, ruelas estreitas, bares quentes amigáveis em cada esquina, pequenos museus apelativos. A residência oficial da família real, palácio de Holyroodhouse e a sua abadia. Calton Hill, repleta de monumentos comemorativos e Arthur’s Seat, antigo vulcão extinto bastante erosionado que homenageia este rei inspirador de tantas lendas. Foi em Edimburgo que provámos o prato nacional da Escócia, Haggis. Os pulmões, o coração e o fígado do cordeiro são cortados em finas lâminas, misturados com farinha de aveia e cebola, tudo introduzido no estômago do animal e cozinhado. Asqueroso, não? Surpreendentemente é bom!
“As Brumas de Avalon”
Saindo de Edimburgo, numa paisagem realmente mítica, encontramos o castelo de Lock Leven, a quinta essência do património escocês. Edificado numa pequena ilha, envolto em brumas mágicas que apelam à imaginação, encerra nas suas torres lendas genuínas de belas princesas cativas. De certeza surgirá a barca conduzida por uma figura mítica que nos conduzirá a lugares inexistentes. Visitamos Perth, a Catedral de Dunkeld e espreitamos por entre as grades os jardins imensos de mais um palácio – encerrado. O castelo de Blair, igualmente encerrado, brilha no lusco-fusco reflectindo a neve branca. Blair Athol, no entanto, tem algo aberto: a destilaria BELL’S. Apreendemos toda a informação que nos torna quase experts nos assuntos de whisky. No final da visita, tal como nas caves do Vinho do Porto, há uma sessão de provas com vista a futuras compras. Conseguem os seus intentos e compramos aqui o tradicional souvenir para a família.

O monstro de Loch Ness
Debaixo de dramáticas nuvens negras perscrutamos as agitadas águas do profundo e escuro Loch Ness, que se estende ao longo de 37km entre Inverness e Fort Augustus. As suas gélidas águas foram exploradas a fundo para tentar encontrar vestígios de Nessie, o esquivo monstro do lago que aparece ocasionalmente a uns quantos “afortunados”. Várias são as pessoas ao longo do tempo que clamam ter visto o famoso monstro. Numerosos documentos comprovativos apresentados, sempre desmascarados como falsificações. Contudo, um estudo revelou a existência de um ser vivo de grandes dimensões que habita as águas do lago – um espadarte de grandes dimensões, é o que dizem os cientistas. Talvez… Nas suas margens, com maravilhosas panorâmica do lago, encontra-se o Castelo de Urquhart. Constante objecto de pilhagem, foi destruído e reconstruído em várias ocasiões ao longo dos séculos. Finalmente foi arrasado em 1692 e agora os seus “restos mortais” são o mirador mais idóneo para avistar o “monstro”.


Dançando Ceilidh
Em Inverness, o tempo combina com o nome. Procuramos, desesperados, nas ruas frias e escuras um alojamento, na sua maioria encerrados. Resta-nos o grande Hotel com o seu átrio com a habitual carpete em Tartan, famoso tecido em xadrez, cujas cores e padrão determinam a que clã pertence. Ouvimos o som de gaitas de foles, o som forte do bater de pés e, claro, fomos espreitar nas portas do salão. Fomos logo apanhados… e convidados a participar na festa! Inesperadamente deparamos com a mais pura demonstração de Ceilidh, a dança e música tradicional escocesa. Ceilidh em gaélico significa “visita” e aplicava-se originariamente às reuniões sociais que tinham lugar numa casa particular, depois de um dia de trabalho. Nelas se contavam histórias e cantavam canções. Actualmente Ceilidh designa qualquer festa que reúna músicos, cantores e dançarinos e quem não estiver a dançar e a divertir-se é culpa dos anfitriões. Não poderíamos ser rudes, embora o nosso maior prazer fosse apreciar o espectáculo e as roupas… dos homens: o tradicional Kilt. Castelo de Inverness também não abriu para nós as suas portas e rumámos mais a norte, para ver um dos castelos mais sugestivos da Escócia. O castelo de Eileen Donan emerge sobre uma ilhota, unida a terra por uma ponte de pedra com arcos. Tal é a sua magia que foi usada como cenário no filme “Os Imortais”, e não é difícil para nós imaginar as terríveis lutas que aqui se passaram. Enfrentando corajosamente o frio empreendemos uma visita ao Parque Nacional das Cairngorms, uma vasta meseta montanhosa de agrestes paisagens. Com profundos vales e montanhas de granito, o seu clima é considerado subártico, com toda a nossa concordância.


Cenário de filme
Dirigimo-nos para Aberdeen e, contrariamente ao que é habitual em nós, devido à dificuldade de transporte, alugamos um carro. De rodas conseguimos chegar a muitos mais sítios e mais rapidamente, enganando a precoce e angustiante escuridão. Visitamos as espectaculares ruínas do Castelo de Dunottar que se debruçam dramaticamente num promontório de 50m de altura sobre o enfurecido mar do norte. Toda a Escócia se proporciona a cenários de filmes (veja-se agora os filmes de Harry Potter) e este maravilhoso castelo não é excepção. Foi usado como cenário cinematográfico para Hamlet, também com Mel Gibson. Percorremos, cuidadosamente pela esquerda, as estradas perto de Aberdeen, procurando indicações que nos levem a castelos outrora gloriosos. Vamos a Glenbuchat Castle, Crathe Castle, Drum Castle e tantos outros que falha o nome. Todos eles encantadores na sua ruína e todos eles… encerrados.


Passagem de Ano
Estava chegada a altura da Passagem de Ano. Programámos o nosso itinerário de forma a estar em Aberdeen nesta altura, de forma a aqui apanharmos o voo de regresso. As nossas pesquisas tinham revelado que em Stonehaven, perto de Aberdeen, a passagem de ano era feita debaixo de bolas de fogo. Decidimos “é aqui que queremos passar a passagem d’ano”. A Fireball Parade iniciou-se ao som das gaitas-de-foles. De facto, a gaita é o único instrumento classificado como arma na História Mundial. Mandava a tradição que os soldados das highlands entrassem em combate, acompanhados pelo som das gaitas. A parada continuava com os manejadores das bolas de fogo, num interminável e incansável desfile. Muito exigente em termos físicos, os manejadores passavam continuamente à nossa frente num circuito circular, onde desistir não era palavra que constasse do vocabulário. Desistimos nós primeiro, afinal o dia seguinte era dia de voo e regresso a casa.
Entristecidos pela oportunidade desperdiçada em penetrar nos misteriosos castelos da Escócia. Mas, aquecidos por conversas amigáveis em bares descontraídos e inspirados por paisagens magníficas e místicas, fica-nos a certeza de que a Escócia e sem dúvida um ADMIRÁVEL DESTINO.


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