sábado, 5 de janeiro de 2008

Rússia - Artigo

ADMIRÁVEL PASSAGEM DE ANO
Não podemos dizer que conhecemos a RÚSSIA, nem sequer que a aflorámos. Ir a duas cidades deste imenso país não nos concede seguramente esse direito. Contudo, viajar para o maior país do mundo, passar aí a passagem de ano era ao que nos propúnhamos, num ADMIRÀVEL DESTINO.

Grandiosa cidade de S. Petersburgo
Iniciámos a nossa viagem por S. Petersburgo, dizem, talvez uma das cidades mais bonitas do mundo. Não temos essa pretensão, o que podemos afirmar é que, sem dúvida, S. Petersburgo é imponente, grandiosa, esmagadora. No delta do rio Neva, com as suas 44 ilhas e 300 pontes, S. Petersburgo apresenta uma arquitectura sublime, herança da era imperial. Em cada rua que passamos (largas avenidas) encontramos palácios que moram lado a lado. Alguns desses palácios foram justamente transformados em museus, outros em estabelecimentos de utilidade pública ou privada. É impossível fazer uma referência justa a todos que a merecem. Esta cidade foi fundada pelos nobres, forçados pelo Czar a mudar para a nova capital e assim construir os seus palácios e ainda proceder aos arruamentos. A história parece viva, enquanto nos cruzamos com elegantes russos que procedem a compras no centro comercial mais antigo do mundo Gostiny Dvor.
O Palácio de Inverno, nas margens do rio, agora o importante museu Hermitage, com 1057 salas e 117 escadarias. Assiste-se, felizmente, a uma massiva reconstrução da grandiosidade do passado. Com as suas múltiplas cúpulas, a Igreja do Sangue Derramado ou da Ressurreição de Cristo (nome oficial) é conhecida como a igreja que demorou 24 anos a construir e 27 a reconstruir. Apresenta 7000m2 de minúsculos mosaicos em belíssimos painéis representando o novo testamento. Procuramos os “banhistas de Inverno” junto à fortaleza de Pedro e Paulo, o edifício mais antigo da cidade, mas o sol não brilha. Passamos junto a Admiralty, que alberga a maior
escola naval do país e relembramos o trágico acidente com o submarino russo Kursk em Agosto de 2000. Foi daqui que saíram aqueles infelizes marinheiros. O Palácio Yusupov que relembra o assassinato de Rasputin “o monge louco” que controlava a família Romanov. E tantos outros…

Seguindo a cozinheira
Por toda a parte vemos algo que nos faz relembrar os grandes romances russos que focam a complexa história deste país, dos seus czares, lutas, traições e sucessões. Tentando fugir ao frio cortante, refugiamo-nos num pequeno estabelecimento numa cave e aqui deparamos com um cenário digno de um romance de Tolstoi. Num ambiente autenticamente russo damos por nós num pequeno estabelecimento onde encontramos boémios artistas conversando, fumando e bebendo. Aqui apenas se fala russo (clientes e empregados) e onde os menus apenas estão em russo. Mas felizmente tínhamos encontrado “aquela” tasca que procurávamos: o autêntico convívio russo. Só havia um problema… como nos fazermos entender? A solução: seguir a cozinheira que tinha saído da cozinha com um prato de fazer crescer água na boca e apontar – Também queremos aquilo! Resultou. Continuaria a ser esse o nosso método, pois era a melhor alternativa aos caros pratos destinados aos turistas.
De comboio para Moscovo
Não tendo esgotado S. Petersburgo, chega a hora de ir para Moscovo. A passagem de ano aproxima-se rapidamente. Escolhemos como meio de transporte o comboio, numa viagem nocturna em confortáveis beliches. Permite-nos poupar tempo útil de passeio e ainda uma noite de hotel. Chegámos ao terminal em Moscovo ainda o dia não tinha despontado, e já uma multidão se aglomerava à porta do metro. A custo penetramos no seu interior procurando encontrar o caminho certo. Com placares apenas em cirílico e funcionários apenas a falar russo, valeu-nos o guia do Lonely Planet para o qual apontávamos esperançosos. No hotel, simpaticamente, deixam-nos fazer o check-in horas antes do suposto. O dia amanhece glorioso e sorridente em Moscovo. O sol brilha sobre as cúpulas douradas, concedendo-nos finalmente a luminosidade ideal para as fotografias. A primeira paragem, aquela para a qual tínhamos guardado o fôlego, era sem dúvida o, outrora inexpugnável, Kremlin.
“O” Kremlin
Nas margens do rio Moska ergue-se uma imponente fortaleza de muros vermelhos e respeitosas torres. Penetramos ansiosos e respeitosos neste “tenebroso” lugar. Tal como supúnhamos, este lugar com o seu aglomerado de palácios, torres, catedrais e cúpulas, deixa-nos ofegantes de tanta grandiosidade. Apesar de extasiados com o Kremlin, não deixamos igualmente de nos deslumbrar com a Praça Vermelha. Entramos pelo Portão da Ressurreição no coração histórico e espiritual da cidade. Encaramos imediatamente com a catedral de St. Basil, aquela que parece um bolo revestido de deliciosos éclairs! Comissionada por Ivan o terrível em 1552, foi mandada destruir por Estaline. Apenas se salvou graças ao arquitecto Pyotr Baranovsky que arriscou a própria vida, impedindo a sua destruição. Menor sorte teve a catedral Kazan. Construída em 1636 para comemorar a vitória dos Romanov sobre os polacos, foi demolida por ordem de Estaline e substituída por uma casa-de-banho pública! Foi posteriormente reconstruída graças aos planos escondidos pelo mesmo arquitecto que salvou St. Basil. “Habitam” ainda a Praça Vermelha lindos edifícios como o Museu Histórico e o grande centro comercial Gum, e outros (muito menos apelativos) como o Túmulo de Lenine.
Dias curtos, noites culturais
Moscovo não é no entanto apenas a Praça Vermelha e o Kremlin. Assistimos render da guarda junto ao Monumento ao Soldado Desconhecido. Aproveitamos o curto dia para passear pelas ruas, apreciando a arquitectura e comendo as deliciosas Blinys (panquecas recheadas com variadíssimos condimentos, entre os quais o caviar). Na paisagem da cidade avistamos as famosas e sinistras torres de Estaline, “as sete irmãs”, que vieram substituir formosos palácios e catedrais. Aqui, a destruição foi muito, muito eficaz. Guardamos as noites para uma ida ao teatro, ao famoso Bolschoy, ver um clássico bailado. Outra noite para o famoso metro de Moscovo, sem dúvida um museu (gratuito) a visitar. Todos os dias 9 milhões de pessoas usam o sistema de metro, mais do que Nova Iorque e Londres juntas. Rápido e eficiente, apresenta belíssimas e trabalhadas estações. Nos seus corredores podemos ainda encontrar artistas que demonstram a sua arte. Respira-se cultura no metro de Moscovo! E, finalmente, a passagem de ano…

Passagem de ano
Chegámos cedo à Praça Vermelha, cerca das 8H da noite, para “apanharmos” um bom lugar. No entanto… por volta das 9H começou o show! Abismados, assistimos a uma evacuação relâmpago deste espaço. Centenas de agentes de autoridade, dos mais variados departamentos (assim imaginamos), tornam deserta uma praça apinhada de gente. Formam um perímetro de segurança e só deixam as pessoas entrar após passarem um detector de metais e revistarem as mochilas. Não era permitida qualquer bebida ou comida – deveriam vender depois lá dentro, não? Muito controladamente, grupos eram mandados avançar à vez para um sítio específico, seguindo por um corredor formado pelos polícias. E nem pensar em sair da linha! A par do espectáculo (muito bom e tipicamente russo) que entretanto tinha iniciado no palco, esta movimentação era digna de apreciação. Com a Praça Vermelha, novamente apinhada, ainda conseguíamos assistir à entrada ininterrupta de mais militares em formatura. Tal como Moisés, abriam passagem no mar (de pessoas), não abrandando a sua marcha enérgica. Automaticamente um corredor abria-se à sua passagem, e nós a pensar que não cabia sequer mais uma sardinha na lata! Qualquer situação de maior excitação era prontamente controlada, sendo o “agitador” chamado à parte e posto na ordem. A noite atingiu o seu auge quando, a minutos da meia-noite, o ecrã mostra em grande plano Putin discursar.
Real ou imaginário?
Era quase meia-noite… não houve tempo para a contagem decrescente, mas ao bater da décima segunda badalada… irrompe nos céus o tradicional fogo-de-artifício que fica lindo, lindo de morrer, por trás da catedral de St. Basil. O real confunde-se com o imaginário, tão fantástico é este cenário, inimitável. Bebemos sofregamente estes escassos minutos, minutos memoráveis! Quase imediatamente termina toda a animação e as pessoas abandonam a Praça Vermelha. A praça queda-se agora deserta, silenciosa mas espantosa e incrivelmente limpa! Não se vê um único lixo no chão - a passagem de ano mais limpa do mundo! O retirar da praça revela-se tão ordeiro e controlado como a entrada. Regressamos ao hotel, o dia seguinte é dia de voo!Dificilmente igualável, foi, sem dúvida, uma passagem de ano divertidíssima, admirável. Tal como ADMIRÁVEL é o maior país do mundo: A Rússia.

Sem comentários: