quinta-feira, 29 de maio de 2008

Moçambique - Artigo

Os encontros de família conduziam invariável e inevitavelmente para o mesmo tema: “Aquela terra maravilhosa”. Era chegada a hora de fazer uma apropriação das memórias emprestadas. Tornar reais lugares familiares e contraditoriamente desconhecidos. Era hora de conhecer o que para tantos portugueses foi um ADMIRÁVEL DESTINO – MOÇAMBIQUE!




SAUDOSA LOURENÇO MARQUES
Começamos a nossa viagem, como não poderia deixar de ser, pela capital do país, a saudosa (perdoem o sentimentalismo) Lourenço Marques, correctamente Maputo. Deparamo-nos com uma cidade de arquitectura arrojada, fruto de visionários da década de 40 e 50. Largas avenidas, ladeadas de bonitas e frondosas árvores, refúgio imprescindível do intenso calor. Infelizmente, mal tratada, a capital apresenta-se suja e danificada, vivendo apenas de antigas glórias. Visitamos sítios emblemáticos, ou assim julgamos por tantas vezes ouvirmos falar neles. Com os nomes das avenidas alterados, torna-se difícil fazer o relato para a família, mas lá se vão reconhecendo os nomes tão repetidos: O Hotel Polana, a Igreja de Santo António do Polana com uma arquitectura arrojadíssima até para os dias actuais, o Mirador, o Clube Naval, ainda e só para os mais privilegiados, o Bazar, o ferry para Catembe, a Avenida Marginal, a Catedral... Enfim, um sem número de lugares que se poderiam dizer comuns e corriqueiros em qualquer cidade, mas que aqui tomam contornos sentimentais. Sorrimos ao nos depararmos com as “conhecidas” e ainda existentes cervejas 2M e Laurentina (as únicas do país) e fazemos uma paragem no restaurante Piri-piri, onde ainda se come um delicioso Frango à Cafreal .

‘NHA TERRA, ‘NHA CASA…
Ainda na capital recorremos a um táxi para nos conduzir ao antigo Bairro do Choupal. Após algumas deambulações, conseguimos descobrir a casa que me viu nascer e que ficou para trás, literalmente como tinha sido deixada. Não teve qualquer obra de restauro ou pintura, apresentando-se agora tão branca como aquela antiga fotografia a preto e branco, única lembrança durante 35 anos. Conversámos com antigos vizinhos, amigos de infância e ainda com os novos habitantes da moradia! As pessoas mostram-se afáveis, simpáticas e prestáveis e convidam-nos a entrar. O resto foi emoção!

NÃO HÁ MACHIBOMBOS!
Era nossa intenção subir a costa de Moçambique e assim, partimos para Norte. Tínhamos descartado a hipótese de aluguer de carro pois, além de muito caro, não o poderíamos entregar na cidade onde apanharíamos o avião de regresso. Não imaginávamos, no entanto, a dificuldade que seria a partir de agora deslocarmo-nos. Uma semana antes tinha falido uma importante empresa de machibombos (autocarros), ficando os transportes reduzidos aos “chapas” - pequenas carrinhas fechadas de 15 lugares que levavam quantos coubessem lá dentro (para cima de 25 pessoas) e ainda carga. Como não poderíamos nem queríamos desistir enfrentámos a desorganização da Junta, a mega-rotunda onde havia a concentração de chapas, o caos e o desconforto. Penosamente, após 140Km e após uma pitoresca paragem numa aldeola de cabanas de colmo, onde apanhámos mangas de uma árvore, chegamos à nossa primeira paragem após Maputo: Bilene.

S. MARTINHO DO BILENE (DO PORTO?)
Esta pequena localidade é banhada pela lagoa de Uembje que se liga ao mar por um pequeno canal (a boca da barra), permitindo o fluxo de água fresca. Apresenta muitas similaridades com S. Martinho do Porto e as suas águas calmas também são ideais para nadar. Nesta zona encontramos muito ananás (deliciosíssimo) à venda e caju, muito caju, ao “preço da chuva”. Como viríamos a descobrir mais tarde, a fartura é localizada. Como não há grande sistema de transportes (ou nenhum), temos de nos cingir e aproveitar o que a zona nos oferece. Saindo dessa zona específica, aqueles bens tornam-se escassos e assim, altamente procurados e caros.

JOÃO BELO, BELÍSSIMO!
Avançámos, dolorosamente de chapa, para Xai-Xai. Aqui apanhamos uma boleia de Xai-Xai cidade para a praia, distante ainda 10Km. Valem-nos os turistas Sul-africanos que com as suas grandes pick-up param sempre que solicitamos boleia. Simpaticamente ainda fazem um percurso extra para nos servirem de cicerones. As casas lembram as antigas aldeias portuguesas, testemunho de uma passagem com carinho, agora completamente degradadas. Na orla da praia, os grandes hotéis da época colonial jazem inutilizados, com as canalizações entupidas de cimento. No entanto, abstraindo-nos destes gigantes feridos de morte, estamos perante uma praia que faz jus ao seu antigo nome: João Belo. Com um quebra-mar natural, água azul-turquesa e quilómetros de areia dourada é simplesmente belíssima!
Procuramos contacto com as curiosas crianças que só precisam de um pequeno incentivo para se aproximarem. Vamos distribuindo as coisas com as quais tínhamos ido carregados, começando a aliviar o elevado peso das mochilas. Tão irrisório nos parece o que distribuímos (essencialmente roupas e brinquedos) e com que efusão é recebido.

A BOA LARANJA DE INHAMBANE
Seguindo para Maxixe, tivemos a sorte de apanhar um machibombo, também apinhado mas pelo menos mais arejado. Maxixe serve-nos apenas como entreposto de passagem para Inhambane, a terra da boa laranja. Se é ou não, não sabemos, não encontramos uma única à venda. Mais uma vez vivemos das memórias emprestadas.
Estas duas cidades são separadas pela baía de Inhambane e, para poupar os 60Km que teríamos de fazer por estrada, atravessámo-la de Dhow em apenas 15 minutos. Os Dhows, nome em suaíli, são pequenas embarcações motorizadas ou à vela mas, não oferecendo grandes garantias de segurança, alguns locais preferem enfrentar a viagem de chapa. Para nós: tudo menos os chapas!
Conhecida como a “terra da boa gente”, Inhambane é uma cidade charmosa, com edifícios coloniais relativamente bem conservados. Rodeia-se ainda de maravilhosas paisagens naturais. Para conhecer os arredores e não havendo quaisquer transportes, necessitamos de recorrer ao caríssimo aluguer de um jipe (o 4X4 era absolutamente imprescindível). Atravessamos assim, quilómetros e quilómetros com milhares de palmeiras. Nesta paisagem interminável de coqueiros escondem-se camuflados pequenos lugarejos de palhotas. Por toda a parte se vê a população a caminhar, numa direcção ou noutra, vinda dos poços, transportando à cabeça grandes baldes de água – até as crianças de tenra idade. A vegetação frondosa esconde ainda as praias de areias brancas e águas cristalinas, dignas das melhores brochuras paradisíacas. Perante tanta beleza causa-nos estranheza, e alguma indignação, que o acesso a estas praias esteja condicionado pelos resorts de alto luxo. Os Sul-africanos apoderaram-se da faixa costeira da Praia da Barra, construindo aí os seus empreendimentos turísticos. Apesar de não ser proibido entrar (pelo menos para nós) é constrangedor. Alguns são até uma espécie de condomínios fechados, à babuja do mar, com casa de férias. Fugimos ao turismo de luxo e vamo-nos refugiar no Tofo, onde existe um mais agradável contacto com a população local. Assistimos a festas improvisadas: basta haver música, comes e bebes e logo a animação toma conta do ambiente. No dia seguinte, continuamos a nossa descoberta pelas praias circundantes: Tofinho, baía dos cocos, e descobrimos porque é que o 4X4 é indispensável!

CHAPAS E MAIS CHAPAS…
De novo a utilizar os chapas, partimos agora para Vilanculos, a nossa última paragem. Apesar de altamente desconfortáveis e demoradas, estas viagens de chapa permitem-nos entrar em contacto com o mais genuíno dia-a-dia dos moçambicanos. Constatamos a sua pobreza e falta de organização, mas também apreciamos a sua afabilidade e simpatia, sempre acompanhada de um grande sorriso. Admiramos o engenho das crianças ao construírem os seus próprios brinquedos. Recorrendo aos únicos materiais existentes, arame, latas de bebida e cartão, constroem brinquedos requintados em pormenores, testemunhos únicos de uma infância roubada e dura.

“LOTA DE SORRISOS”
Vilanculos é uma cidade que só é visitada pela sua proximidade ao arquipélago de Bazaruto com as suas ideais ilhas para mergulho e, claro está, com resorts de luxo. Ficámo-nos pela cidade! Deparámos aqui com o mais belo espectáculo alguma vez por nós imaginado. Tivemos a sorte, enquanto deambulávamos por outra praia magnífica, de assistir à chegada da faina. Uma grande, autêntica e fabulosa lota, à moda antiga (antiquíssima), à moda de Moçambique. Os pequenos barcos chegam carregados de peixe, as mulheres esperam na beira da água com as bacias à cabeça, competindo pelo direito de descarregar – são pagas ao alguidar. O peixe é descarregado directamente na areia, onde estão já os compradores para fazer negócio. No meio dos gritos, empurrões, regateio, as crianças participam na azáfama, ora ajudando ou divertindo-se. Neste caso fomos nós o alvo da diversão quando descobriram que podiam ver as suas fotografias (e tantas, tantas fotografias e filme) nas câmaras. Até os adultos pediam fotografias e riam-se ao vê-las. Foi simplesmente arrebatador. Apelidamos este acontecimento de “Lota dos Sorrisos”, de efeito contagiante e duradouro.

O BOM DO CARANGUEJO
Reservamos um dia para uma viagem às ilhas e tivemos mais do mesmo: praias maravilhosas, só que aqui sem o colorido da população local. Vilanculos teve ainda a particularidade de só ter um sítio para comer e onde o menu era sempre o mesmo: lula, a grande e saborosa lula. Contudo, o peixe fresco e saltitante da lota aguçou-nos o apetite e, pedimos ao restaurante se nos cozinhava alguma coisa se nós a comprássemos: “Claro, só paga mão-de-obra!”. Regalámo-nos assim com belos, grandes e suculentos caranguejos acabadinhos de pescar e comprados directamente no barco que chegava!

Após 700Km, subimos apenas ¼ da costa de Moçambique, mas o tempo não chega para mais! Esta viagem na “terra das memórias” revelou-se duríssima, pela precariedade dos alojamentos (caros para a relação qualidade/preço), pela dureza dos transportes e pela pobreza imensa presente em todos os momentos. Moçambique é um diamante que algures no tempo foi delapidado mas que presentemente perdeu o brilho. Um lugar de saudades que foi, e será futuramente, um ADMIRÁVEL DESTINO.

2 comentários:

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