ADMIRÁVEIS DESTINOS
Quem não sonhou já com os grandes espaços abertos de África, as grandes savanas? Pois tudo isso, finalmente, iria deixar de fazer parte do nosso imaginário para se tornar uma vivência bem real. As reservas nacionais de Lago Manyara, Ngorongoro e do Serengeti seriam a segunda parte da nossa viagem à TANZÂNIA.
Quem não sonhou já com os grandes espaços abertos de África, as grandes savanas? Pois tudo isso, finalmente, iria deixar de fazer parte do nosso imaginário para se tornar uma vivência bem real. As reservas nacionais de Lago Manyara, Ngorongoro e do Serengeti seriam a segunda parte da nossa viagem à TANZÂNIA.
AINDA A TANZÂNIA
De regresso a Moshi, cidade capital da região do Kilimanjaro, para o mesmo hotel que tínhamos deixado antes da ascensão ao Kilimanjaro, para mais uma noite. Depois das condições que tínhamos superado, este parecia-nos agora extremamente luxuoso, com o serviço caótico que um pedido extra desencadeava, com as suas redes mosquiteiras, outrora brancas, e com o seu pretenso sistema anti-fogos (três baldes pendurados, dizendo pomposamente fire). Uma vez que tínhamos um dia de pausa, sem programa algum estipulado, resolvemos conhecer a cidade, esta com cerca de 52.200 habitantes. Contrariamente ao “apregoado” o passeio não foi de todo perigoso e os seus habitantes revelaram-se extremamente amigáveis, especialmente as crianças que foram presença constante no nosso passeio, companhia animada de sorriso fácil, tocando-nos amiúde e solicitando continuamente «pen, pen» (caneta). Percorremos as ruas de terra batida procurando o centro, para descobrirmos que este só se distinguia por ter alguns edifícios de tijolo, ao invés do habitual latão e madeira. Concentramo-nos na população, observámos a imaginação das crianças na construção de brinquedos, visitámos o mercado repleto de sons, cores e cheiros e uma imensidade de bananas de todas as cores e feitios, em grandes carregamentos de camionetas a transbordar. Bonitas pessoas e muitas, muitas fotos!
Documentário vivo
E assim partimos para o nosso safari, fotográfico bem entendido, que nos iria levar primeiramente às paisagens do Lago Manyara. Pelo caminho observámos o quotidiano das pessoas, excitadíssimos com vislumbres esporádicos de pastores Massai conduzindo as suas manadas, com as árvores gigantescas, agora nuas, símbolos de resistência extrema, com os animais selvagens que avistávamos e ainda sem sequer termos chegado à primeira das reservas! O Lago Manyara é das poucas paisagens da savana de África que apresenta uma grande concentração de vida selvagem durante todo o ano. Graças ao seu lago, apesar do seu recuo drástico, os animais têm sempre água para beber e enfrentar o impiedoso Verão, abstendo-se assim de migrar para outras paragens. A profusão de vida é tanta que nos acentua, cada vez mais, a sensação de que estamos num documentário da National Geograhpic. Por um momento ficamos sem vontade de fazer comentários em voz alta, os olhos bebendo ávidos a paisagem que se nos depara, o silêncio entrecortado por sons selvagens e por suspiros e exclamações bem humanas. Uma palavra simples e corriqueira descreve os nossos sentimentos: Lindo! Gastamos rolos e rolos de fotografias, naqueles animais que já vimos no jardim zoológico, que já vimos centenas de vezes nos diversos documentários, mas… Procuramos afincadamente levar uma recordação de cada animal diferente que vemos, como se fossem retratos dos nossos melhores amigos. Ainda de sorriso no rosto, a pele pegajosa numa massa de creme protector, suor, repelente de insectos, pó e alguns mosquitos esmagados, demos por terminado o dia ao pôr-do-sol. A esta hora é impressionante a quantidade de mosquitos que despertam para importunar tudo e todos. Novamente fazemos silêncio, desta feita para não sermos apanhados (novamente) por alguns mosquitos kamikazes empenhados em descobrir a profundidade das nossas gargantas. Dirigimo-nos ao acampamento para uma revigorante limpeza do nosso corpo com… toalhetes de bebé – não havia água! A paliçada em redor do acampamento oferecia-nos uma (falsa) sensação de protecção e, até achávamos engraçado os macacos a saltar de ramo em ramo, sendo a apoteose quando procuravam no chão, junto a nós, alguns restos de comida.
Os Massai
Do Lago Manyara fomos para a cratera de Ngorongoro, fruto de um nascimento brutal pelo abatimento do seu vulcão, onde jaz um lago de águas adormecidas. O lago ocupa, parte dos 18km de distância da depressão fechada da caldeira e, encontra nas vertentes abruptas de 600m de altura que a rodeiam, uma barreira natural, albergando mais de 30.000 animais selvagens. No seu interior vivem comunidades, outrora nómadas, da tribo Massai, juntamente com 100.000 cabeças de gado. Curiosa e inesperadamente convidam-nos para visitar uma das suas aldeias, cujo o chefe abriu as portas ao estrangeiro curioso. Deste modo fornece aos seus residentes um rendimento suplementar, permitindo-lhes a sedentarização, “melhorar” o seu nível de vida e uma maior segurança.
«Conchinhas»
O que fascina tanto aqueles que não são africanos na vida dos Massai? Indiscutivelmente é o seu aspecto, a sua atraente figura envolta em panos vermelhos, as tranças intrincadas dos guerreiros, os complicadíssimos adornos de missangas que requerem muita habilidade, conhecimento do material e naturalmente muita paciência, os seus rituais e, sobretudo, a sua amistosidade. Recebem de braços abertos os turistas carregados de aparelhos electrónicos e manifestam um genuíno interesse pelos que os visitam, tal como nós por eles, numa curiosidade recíproca. Ficamos estupefactos quando o chefe, após alguns minutos de
amena conversa e perante a nossa nacionalidade, discorre numa “aula” de história descrevendo os feitos de Vasco da Gama! Este mesmo chefe ainda mais nos fascinou quando, repete algumas palavras portuguesas que deixamos escapar ao admirar o seu artesanato, com uma pronúncia que faria inveja ao mais aplicado aluno de língua portuguesa – «Conchinhas». Para além das esporádicas visitas dos estrangeiros, a vida diária concentra-se no tratamento do gado (vacas) e a exploração dos seus produtos. O leite, o sangue e a carne de vaca são a base da sua alimentação, sendo o gado o fulcro da sua existência. Além da alimentação fornece-lhes a matéria-prima para a construção das suas casa – bosta de vaca seca. Entramos numa destas casas, a convite do chefe - a sua própria casa - onde a esposa número dois cozinha o almoço. Ouvimos, deliciados, relatos sobre como os Massai ainda fabricam lanças, para a protecção das suas manadas quando as levam para as pastagens, não vá aparecer um leão que as queira transformar, ou a eles, em refeição. E ficamos tanto tempo quanto os nossos olhos e pulmões permitem: as casas baixas, apesar das diversas aberturas, concentram uma grande quantidade de fumo que faz arder os olhos e, com grande pena nossa, nos expulsam do
local, apesar do conselho de nos sentarmos o mais rente ao chão possível. Claro que esta aldeia é um pouco mais rica do que as demais, por ter aberto as portas ao turismo, mas o divertimento é mútuo e o fascínio cultural prevalece num viver arcaico não adulterado.
Javali guloso
O acampamento desse dia foi fora da cratera, aqui com uma sensação (falsa) de segurança pela barreira natural de montes que impediriam os animais de entrarem e saírem. Desde logo propusemo-nos a um pequeno passeio pelos arredores, uma vez que ainda era cedo e, a vontade de conhecer imensa. Repentinamente, apareceram os rangers que nos aconselharam vivamente a voltar para o acampamento, pois havia zebras ali perto que se poderiam tornar agressivas em manada. Ora, zebras – leões!!! Começamos a raciocinar que estavámos na selva, não num grande jardim zoológico com animais amestrados e que se ali existiam rangers armados, por alguma razão era! Agora eram os nossos pés que faziam poeira nos caminhos. Essa noite foi caracterizada pela visita de morcegos que pretendiam um abrigo no “tecto” da nossa tenda e que justificaram a cobertura extra que, com curiosidade, tínhamos observado colocar nas tendas. O nosso companheiro de viagem recebeu ainda outra visita de peso quando, imprudente, colocou um resto de sanduíche, ainda que embrulhada e dentro de um saco plástico, entre os panos da tenda e que, desde logo, um javali guloso se procurou apoderar. Contou-nos na manhã seguinte que só à força de pontapé conseguiu afastar o javali o suficiente para mandar a sanduíche para longe e assim ver-se livre dele. Tudo não passou de uma gargalhada ao pequeno-almoço. O dia continuou divertido, na observação do comportamento animal e até partilhámos o local de almoço com uma manada de hipopótamos – eles num lodaçal imundo e nós no jipe a observar. As suas gordas barrigas cor-de-rosa a rebolar, as suas bocarras a abrir, o constante borbulhar do defecar que os outros prontamente comiam, não foram o suficiente para nos estragar o apetite. Ali, perante tal espectáculo, era difícil lembrarmo-nos que estávamos perante o animal que provoca mais mortes humanas em África!
O que fascina tanto aqueles que não são africanos na vida dos Massai? Indiscutivelmente é o seu aspecto, a sua atraente figura envolta em panos vermelhos, as tranças intrincadas dos guerreiros, os complicadíssimos adornos de missangas que requerem muita habilidade, conhecimento do material e naturalmente muita paciência, os seus rituais e, sobretudo, a sua amistosidade. Recebem de braços abertos os turistas carregados de aparelhos electrónicos e manifestam um genuíno interesse pelos que os visitam, tal como nós por eles, numa curiosidade recíproca. Ficamos estupefactos quando o chefe, após alguns minutos de
Javali guloso
O acampamento desse dia foi fora da cratera, aqui com uma sensação (falsa) de segurança pela barreira natural de montes que impediriam os animais de entrarem e saírem. Desde logo propusemo-nos a um pequeno passeio pelos arredores, uma vez que ainda era cedo e, a vontade de conhecer imensa. Repentinamente, apareceram os rangers que nos aconselharam vivamente a voltar para o acampamento, pois havia zebras ali perto que se poderiam tornar agressivas em manada. Ora, zebras – leões!!! Começamos a raciocinar que estavámos na selva, não num grande jardim zoológico com animais amestrados e que se ali existiam rangers armados, por alguma razão era! Agora eram os nossos pés que faziam poeira nos caminhos. Essa noite foi caracterizada pela visita de morcegos que pretendiam um abrigo no “tecto” da nossa tenda e que justificaram a cobertura extra que, com curiosidade, tínhamos observado colocar nas tendas. O nosso companheiro de viagem recebeu ainda outra visita de peso quando, imprudente, colocou um resto de sanduíche, ainda que embrulhada e dentro de um saco plástico, entre os panos da tenda e que, desde logo, um javali guloso se procurou apoderar. Contou-nos na manhã seguinte que só à força de pontapé conseguiu afastar o javali o suficiente para mandar a sanduíche para longe e assim ver-se livre dele. Tudo não passou de uma gargalhada ao pequeno-almoço. O dia continuou divertido, na observação do comportamento animal e até partilhámos o local de almoço com uma manada de hipopótamos – eles num lodaçal imundo e nós no jipe a observar. As suas gordas barrigas cor-de-rosa a rebolar, as suas bocarras a abrir, o constante borbulhar do defecar que os outros prontamente comiam, não foram o suficiente para nos estragar o apetite. Ali, perante tal espectáculo, era difícil lembrarmo-nos que estávamos perante o animal que provoca mais mortes humanas em África!
Paisagem desfocada
E, finalmente, o Serengeti: um dos ecossistemas mais ricos e impressionantes do planeta. Aqui deparamo-nos com a autêntica savana africana. Búfalos, rinocerontes (poucos), elefantes, girafas, hienas, leões e leopardos e mais de dois milhões de gazelas, gnus e zebras distribuem-se por 14.400km2 de planície. Debaixo de um calor atroz percorremos de jipe os trilhos do parque, parando a cada momento, para apreciar a VIDA a uma distância relativamente segura, não vá um elefante nervoso e zangado de orelhas enfunadas e a abanar, investir repentinamente sobre nós. Os elefantes causam uma devastação estrondosa à sua passagem, abrindo caminho junto de qualquer animal, fazendo-nos ponderar quem será o verdadeiro Rei da Selva! Procuramos perseverantemente a sombra do leopardo, mas não temos sorte. Perscrutamos uma toca com duas crias de hiena, ternurentas enquanto bebés. Vislumbramos ao longe os contornos raros de dois rinocerontes e ansiamos aproximarmo-nos. Esfregamos os olhos, numa tentativa de focar a visão, afastando suor e cremes. Um segundo olhar devolve-nos a mesma paisagem desfocada pelo calor intenso que se vê literalmente e, pelas árvores espinhosas que lhe conferem um efeito riscado. Vivemos um sonho!
Aquela noite em África
Exaustos, as emoções exacerbadas, dirigimo-nos ao novo acampamento para o habitual “banho” de toalhetes. Olhando as estrelas surge o comentário -«Não há vedações nenhumas, qualquer animal pode vir aqui.» Encolhemos os ombros, seguros do comentário tolo, desvalorizando-o. Mas, inconscientemente, reparamos na “cozinha”devidamente protegida por rede e que os guias dormem nos carros. Esperava-nos uma noite para reviver e consolidar os acontecimentos – o Serengeti representa a verdadeira e dura luta pela sobrevivência. Valorizamos os documentários que levam ao conforto de nossas casas, imagens lindíssimas e raras que se desvanecem em 50 minutos, mas que implicam dias, meses e até anos de grande dedicação. E sonhamos com tudo. Sonhamos até ao momento que aquele rugido de leão… deixa de ser um sonho! Parecendo um filme de suspense, os olhos abrem-se repentinamente sem vestígios de sono. Os cinco sentidos completamente despertos. A pergunta desponta, sussurrada a medo: -«Isto não é um leão?»; -«Chiu, já ouvi. Não fales.» Não falar, não respirar, nem sequer pensar… O corpo estremece a cada rugido, numa sensação interior estranha de formigueiro. As mãos no peito, procurando acalmar o ritmo cardíaco e evitando ao mesmo tempo que o coração fuja. Não falar, não respirar, nem sequer pensar… Será que o leão sente o cheiro do medo? Novo rugido, vem de dentro, poderoso, fenomenal! E as patas… crrr, crrr. Ali mesmo ao lado da tenda! O ouvido junto ao chão intensificando o seu troar… crrr, crrr. Isto é só um paninho, frágil, barreira ténue. Não falar, não respirar, nem sequer pensar... e as patas, crrr, crrr… Começam agora ligeiramente a afastarem-se. O rugido esmorece. Ouve-se novamente ao longe o ulular das hienas, estranhamente reconfortante. Finalmente respirar! Os lábios cianóticos, os olhos desmesuradamente abertos a saltar das órbitas e a bexiga… completamente cheia. Ai, demasiadamente cheia! E agora? São 2h da manhã, ainda faltam 4h para o Sol nascer. -«Da tenda é que eu não saio!»… Seguramente a noite mais longa de uma vida, cujo mais ínfimo pormenor recordaremos vivamente em qualquer tempo e lugar, e que mereceu a nominação de “aquela” noite em África
Tesouros esquecidos
Na manhã seguinte o episódio torna contornos mais específicos e menos assustadores. Uma leoa tem por hábito ir beber água ao acampamento, aspecto que o nosso guia se “esqueceu” de mencionar. Já deveríamos estar habituados, pois os guias na Tanzânia pouco merecem esse nome. São simplesmente uns curiosos, com pouca vontade e gosto de fazer o seu trabalho. É assim o turismo na Tanzânia: poucos guias capacitados, poucas condições de higiene, poucas condições de alojamento. Contudo, um país que nos faz pensar nos últimos paraísos da Terra, com tesouros naturais que fazem dele um lugar ADMIRÁVEL!
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